segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Música Clássica na Dança do Ventre

De todas as músicas árabes disponíveis para nossa criatividade na dança, a música clássica é aquela que "não basta ser um rostinho bonito" para dançar. Se preparar para dançar uma música clássica é sobretudo estudar!! Sabe toda a nossa preocupação em passar ritmos, instrumentos musicais, dicas de professoras? Você pode usar estas dicas para uma outra finalidade, mas todas elas são necessárias para se dançar corretamente uma música clássica. As clássicas necessitam de ouvido atento (e afiado), conhecimento da sua estrutura, dos seus pormenores: hora de deslocar, de parar, de usar o véu e de soltá-lo, hora para tremer, para ondular, para pular, etc. A criatividade fica para os inúmeros passos que podemos explorar em cada momento, mas não para reinventar uma nova forma de interpretar os momentos da música.

Mas meninas, não pensem que isso é ditadura cruel das dançarinas do ventre, de um grupinho que está no topo. Não podemos sambar no frevo, não é? Ou dançar valsa no tango! Esta é a estrutura formada para que as dançarinas leiam todos os instrumentos da música, a função da dançarina é justamente expor essa harmonia entre melodia e percussão em 3D (como diria Hossam Ramzy). Para isso, vamos explicar por tópicos basicamente o que temos que nos atentar:
  1. Introdução da música: NÃO DANCE!! Sequer apareça em frente ao público (já vi bailarinas paradas como estátuas com a mão na cintura ainda, que horror!). Esta é a apresentação da banda, por mais que ela não esteja ali fisicamente, esse momento não foi feito para a dança, mesmo que você ache lindo de morrer.
  2. Chamada da Bailarina: Ela pode ser longa ou só um floreio rápido. Fique atenta, uma variação da melodia de introdução é a chamada da dançarina. Geralmente ela vem após a percussão iniciar o ritmo da entrada.
  3. Entrada: Nesse momento, o ritmo inicia puro, sem melodia, quando a melodia entra junto com ritmo, é a hora de entrar com deslocamentos ou andando (se o ritmo for o Vox, por exemplo). Mas caso você não conheça a música e não queira sair esbaforida, conte até 4 e entre no 5. É meu segredo: eu conto!hehe. A música árabe tem 2, 4 ou 8 tempos, normalmente, ou seja, ela "vira" após essa contagem, o que marca um novo momento da música. Comigo até hoje deu certo!
  4. Baladi: Chamo de baladi, mas pode ser um saidi sem mizmar (cornetinha). Esse é o momento para parar de deslocar, e marcar com um básico egípcio. Só posso fazer básico egípcio? Bem, ele é o sinal que você reconheceu o ritmo, e num concurso ou numa prova isso é fundamental. Essa é a hora de largar o véu, se estiver com ele na entrada.
  5. Variação: Bem, a partir de agora a música vai variar não necessariamente na mesma ordem. Podemos ter um Taqsim (quanoun sempre se treme, alaúde se for dedilhado; instrumentos de sopro se ondula, com exceção do mizmar); um folclore (said com mizmar é Saidi! Pule, faça gracejos; soudi se dança khaleege; ayoub puro - sem melodia, só percussão - é zaar, baixe um santo) ou podemos ter um ritmo de deslocamento (malfuf, vox, ayoub, masmoudi "caminhando" com 3 DUM) acompanhando a melodia alternando entre um momento e outro da música.
  6. Finalização: A melodia da introdução vai se repetir, podendo vir mais acelerada. É hora de girar - perto do final - e montar a sua pose de diva.
Isso aí é um "basicão" que geralmente se aplica à maioria das músicas. Existem músicas como Shirin, por exemplo, que a entrada só termina no minuto 2:40, aproximadamente, mas existem várias variações ainda dentro da entrada! Para essas "pegadinhas" é preciso ouvir as músicas, quase memorizá-las, hehehe, especialmente se for do seu interesse se formar para dar aulas ou fazer concursos. Essas coisas a gente aprende perguntando, lendo, fazendo workshops, por isso é fundamental procurar se informar. Já vi muitas professoras "assassinando" músicas clássicas, coisa de dar dó. A aluna que está ali geralmente como "receptora", não consegue perceber que está aprendendo errado, aí vai lá pular no saidi, e só! Não lê os instrumentos melódicos, que nos indicam como variar nossos movimentos, nada de ficar na percussão, ela só indica se é para andarmos ou ficarmos paradas; entra na apresentação da banda, ignora os folclores "desconhecidos". Estudar é necessário, vamos nos empenhar para trazer técnica e qualidade à dança do ventre.

Abaixo a Shadia el Gamila dançando Tammil como uma música clássica, hamdellah!



OBS: Notem que ela entra antes do ritmo se unir à melodia, mas ela só começa a se deslocar após a chamada da dançarina.

14 comentários:

Gisele Moraes disse...

Nossa, que excelente postagem!!!
Eu AMO as músicas clássicas e sei o quanto é difícil dançá-las... Precisa mesmo ter muito conhecimento e muita desenvoltura para a rica variação de rítmos, melodias, etc. Deixo uma dica para as iniciantes, que ouçam MUITA mas muita música clássica, primeiramente sem tentar dançar, só ouvir mesmo cada acorde de preferência de fones, para se acostumar. É um ótimo exercício de "ouvido". Eu faço isso até hoje e ñ me canso nunca!

Marcelly disse...

Post perfeito, adorei !!
Aliás, esse blog é perfeito, parabéns !!!
Sou iniciante em DV, e me apaixonei pelas clássicas, desde q começei minhas aulas, aprendi a escutar muita música árabe, no meu mp4 está cheiooooooooo, rsrs !
Beijocas !

Celia disse...

Obrigada, Gisele. Ouvir músicas clássicas realmente é primordial para conseguir dançá-las. Você comentando dos fones, me lembrou quando eu ia no ônibus ouvindo todas as músicas clássicas que eu tenho em MP3, resultado: sei todas de cor, mas ainda existem muitas outras para aprender.
Tenho amigas que ouvem o dia inteiro,vc liga pra casa delas, ao fundo tá rolando um Raqs Jasmin, uma Yasamina. Até no carro, se for com elas, é ouvindo música clássica!

Celia disse...

Nossa, Marcelly, obrigada!! Isso aí, comece pelas clássicas! Existe o ditado "bellydancer" que diz: "quem sabe dançar uma clássica, sabe dançar qualquer música!"

Grazi Nurhan disse...

Excelente post! Conseguiu colocar em palavras o que eu estava ensaiando para passar para minhas alunas! Me ajudou muito!
Fiquei aliviada tbm, não sou só eu que só ouço música árabe desde que comecei a dançar... quase 5 anos! Não deixa de ser ótimo exercício como diz a Gisele!
Beijos

Unknown disse...

Célia, você é um anjo! Tem uma facilidade com as palavras que é uma coisa louca! Esse seu post é perfeito!!! Exatamente o que tem que ser dito! Sem mais nem menos! Amei!!!
Beijinhos

Hanna Aisha disse...

Olá!
Vou começar a dar dança clássica pras minhas intermediárias e enviarei esse texto pra elas estudarem, obrigada!
Beijos

aricelma disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
aricelma disse...

Querida, gostei muito do teu site.Parabéns pois p quem estuda , ele é muito esclarecedor.
Mas tive uma dúvida qdo li o início do texto Como interpretar uma música clássica.
Há uma pergunta que n entendi. Vejamos
A pergunta é:
Quando dançamos uma música clássica, o que guia nossos movimentos? O ritmo ou os instrumentos musicais?
Dúvida: pq instrumentos musicais se o ritmo é tb tocado com instrumentos musicais ( de percussão,mas instrumentos musicais).
A pergunta n seria:
Quando dançamos uma música clássica, o que guia nossos movimentos? O ritmo ou a melodia?
Um grande beijo e fica com Deus.
Aris Medrei

Celia disse...

Aricelma,
A prioridade numa música clássica é vc orientar seus movimentos para a melodia.
O ritmo não é ignorado, mas ele - que vem na percussão - só marca se você deve fazer os movimentos acompanhando a melodia andando, ou parada. No máximo você marca o acento do ritmo na percussão, que geralmente é o "ta".
Pois é, eu me equivoquei no outro post: os instrumentos de percussão também são instrumentos musicais! Já corrigi!hehe O que vc tem q diferenciar são os instrumentos melódicos (guiam os movimentos, flauta, violino, etc) dos de percussão (derbake, pandeiro, snuj, etc).
Ajudei?

Natália disse...

tá de parabéns.. eu entrei na dança do ventre em 2006, pois me apaixonei por uma música. E hoje coloquei 'dança do ventre - clássica' no google, e achei seu blog. E o vídeo tocou EXATAMENTE a música que eu procurava :) [hamdellah]. Valeeu!

Natália disse...

tá de parabéns.. eu entrei na dança do ventre em 2006, pois me apaixonei por uma música. E hoje coloquei 'dança do ventre - clássica' no google, e achei seu blog. E o vídeo tocou EXATAMENTE a música que eu procurava :) [Tammil]. Valeeu!

Anônimo disse...

Flo, cuidado só com esse lance do que pode e do que não pode. A Nagwa Fouad entrava antes do malfuf, para aquele seu famoso momento "mise-en-scéne". Ouvi do Gamal Seif que essa coisa da entrada fica a critério de cada dançarina. No Egito ela não fazem pq precisam apresentar a banda, mas aqui, que dançamos com música mecânica, perde o sentido...

Renata Silva disse...

Seu texto é muito proveitoso, porém cuidado com algumas afirmações porque nem sempre podemos sustentá-las, no caso de "NÃO DANCE", acaba sendo tão relativo pois não é uma regra e depende de quem dança. E tome cuidado com os videos para dar exemplos pois eles podem nos contradizer também...esse video a introdução foi cortada e a bailarina se inspirou muito na coreografia de Saida...o said em música clássica não é de carater folclórico, é simplesmente um rítmo....

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