domingo, 25 de março de 2012

Curso de Alfabetização em Árabe


Quem se interessar, amanhã abrem as inscrições para cursos de árabe e hebraico na Fundação de Casa de Rui Barbosa, que fica na Rua São Clemente em Botafogo.

Iniciativa do Núcleo de Estudos em Oriente Médio, do qual faço - orgulhosamente - parte, o curso estará voltado nesse semestre para a alfabetização e será ministrado pelo conhecidíssimo Nami Hanna em árabe, e pela Sônia Levinbuk no hebraico. As aulas começam dia 04 de Abril, sendo o hebraico das 18h00 às 19h30 e o árabe das 19h30 às 21h00. A mensalidade custará R$80,00.

Mais informações vocês encontram no site clicando aqui.

As Dançarinas do Cairo


Gente, tem um documentário francês muito legal sobre a situação atual da dança do ventre no Egito! E o melhor ainda: legendado em português! Temos acesso a ele graças à Laura e à Grazi. Arrasaram, meninas!


Além do óbvio, foi interessante saber que:
1 - A Soraia Zaied ganha até mil euros por dança;
2 - O imaginário europeu sobre a dança do ventre ainda é o mesmo;
3 - Existe uma lei para que as dançarinas tapem a barriga!

terça-feira, 20 de março de 2012

Oriental Club - Balada árabe (RJ)

Pessoal, em abril, vai rolar uma balada árabe no Rio de Janeiro. Que eu saiba, é a primeira na cidade e é uma nova proposta de entretenimento oriental para a cariocada - que está em polvorosa!
O evento contará com DJ e Derbake ao Vivo (Live PA), performances interativas, malabares e muita energia boa na pista de dança. VAMOS? Célia e eu já estamos nos organizando para ir =) E convidamos todos para que o projeto dê certo e continue, porque o Rio precisa, né?
Preparem seus snujs e lenços de quadris!

Obs: O blog do evento ainda vai entrar no ar. Aguardem.

sábado, 17 de março de 2012

Dança do Ventre na TV

Esta semana teve Dança do Ventre num dos jornais locais daqui do Rio de Janeiro: o Balanço Geral apresentado pelo Wagner Montes. O estilo dele é meio polêmico, tem uns comentários inusitados, umas brincadeirinhas e um bordão que, acredito, resume seu estilo: "Escraaachaa!". É exótico, mas faz sucesso por aqui. Não sei a quem comparar, mas é mais feito pro povão mesmo e tem altos índices de audiência (ou já teve, não estou tão a par assim do programa).

Temi pelo conteúdo quando fiquei sabendo da notícia, mas me surpreendi ao ver o vídeo. Infelizmente não tem como anexar, então segue o link da página do programa disponível no portal R7: http://videos.r7.com/dancarinas-mostram-misterios-da-danca-do-ventre-no-balanco-geral-rj/idmedia/4f6237efe4b0f37377552333.html

As dançarinas são a Anna Carolina Motta, Cristal Aine e a Nadja el Balady. Gostei, sabe? Primeiro, porque são profissionais sérias da região, que batalham pela valorização da nossa arte. Muitas vezes, pelo que me parece, a Televisão, ou a mídia de massa, contrata qualquer uma que cobre menos e que mostre o máximo (se é que me entendem). Segundo, porque as bailarinas conseguiram administrar bem o Tribal com a Dança do Ventre. Achei de muitíssimo bom gosto não só a apresentação, mas também a ideia de colocar em cena as diferenças de um estilo pro outro com movimentação parecida no começo e depois um momento para cada estilo explorar suas movimentações mais características. As mais cri-cri podem até argumentar que não ficou claro as diferenças e o que mais der na telha, mas vamos ser realistas: o tempo do programa era X e nesse tempo X elas mandaram muito bem. Ainda bem, não é? Já chega de porcaria sendo veiculada por aí. Rolou um respeito inesperado, viu? Porque quem conhece o programa, sabe do que eu estou falando. Só não entendi muito bem de onde partiu a ideia de levar a dança para o programa, achei meio solto, não? Alguém sabe o motivo? E o que vocês acharam dessa participação no programa?

E a criancinha, Serena? Fofíssima!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Uma mesma bailarina, uma mesma música

A música é Setta Al Sobh e a bailarina é a Elis Pinheiro. Tomando como "certo" de que as duas apresentações foram improvisadas, achei interessante trazer uma mesma música, não interpretada por bailarinas(os) diferentes, mas sim pela mesma pessoa. Exatamente com a intenção de mostrar que mesmo quando dançada por uma única pessoa, a música pode ganhar contornos diversos, tendo em mente que existem vários fatores que contribuem para estas nuances. Enfim, mesmo se tratando do mesmo "ser", existe uma história de vida por trás de cada interpretação. Neste caso as apresentações têm um intervalo de tempo até curto: o primeiro vídeo é do final do ano passado e a segunda é de março de 2012.
*
São duas apresentações muito bonitas e a Elis se repete em alguns poucos momentos (faz os mesmos passos em ambas as apresentações), mas identifiquei mais mudança que repetição entre os dois vídeos, é só comparar - a entrada por exemplo é diferente, mesmo ela se valendo de um mesmo deslocamento. Acho legal verificar isso para vermos que uma mesma bailarina traduz a mesma música de diversas formas, enquanto que ao mesmo tempo se "repete" e segue uma linha também, o que estaria ligado ao estilo da bailarina. Eu particularmente tive dificuldade pra optar pelo que mais gostei, mas acho que fico com o primeiro, apesar de ter amado muitos momentos do segundo, e vocês?
A proposta desse post era só ficar na comparação da leitura musical de uma mesma bailarina ao dançar uma mesma música, mas não resisti em comparar com outra pessoa rs.
Que vocês acharam do David da Escandinávia? Eu gostei... Em alguns momento não, mas achei legal algumas propostas dele (é engraçado essa perna esticada dele no começo não?) e fiquei comparando as soluções que ele encontrou em alguns momentos musicais com a interpretação da Elis. Bem interessante, porque são estilos completamente distintos.
E agora David ou Elis? rsrs Dispenso essa solução, porque a própria Elis dança diferente de si mesma, mantendo a essência é claro, e o David é outraaaa interpretação, totalmente diferente. O sentimento, a conversa com o público e a música, a técnica, enfim. Na verdade não acho que é uma questão de escolha, até porque gostei dos dois rs. Mas e vocês?

quarta-feira, 14 de março de 2012

Poesia: Transcendência

Hoje eu tive uma inspiração e escrevi uma poesia sobre a minha relação com a dança do ventre. Gostaria de compartilhar com vocês! Aproveito deixo a "trilha sonora" do meu momento: Love in Damas da Lina Chamamyan.



Transcendência

Eu danço
e meu corpo transcende
Ele vai para outros ares
Em ritmo, em pares
em cadência latente

Sinto que posso ser mais
que meu corpo transmite
o que meu espírito sente
o que meu âmago traz

Se em algum ponto
meu ânimo cai
em outro reacende
E se torna mais

Se em algum ponto
alguém me desfaz
eu busco o sonho
e meu sonho refaz

quem dera se todos pudessem
dançar e sentir
dançar e saber

quem dera que houvesse
não mais dessaber
que buscassem entender

Mas não importa o redor
pra mim é o que basta
dançar, transcender
Desbravar, reviver


segunda-feira, 12 de março de 2012

Falando sobre Orientalismo...

Amadas adoradoras do conhecimento que seguem esse blog e tantos outros! Pensando sobre essa questão do Orientalismo, encontrei um artigo da saudosa Luana Mello explicando o que ele é e sua relação com a dança do ventre. Achei interessante compartilhá-lo com vocês.

Antecipadamente, fazendo um comentário sobre as impressões que ela teve quanto ao livro do Edward Said e o da Wendy Buonaventura, os dois que se usam no meio da dança do ventre como conhecimento do Orientalismo, ela falou algo que me caiu uma ficha muito grande: que a Buonaventura possui uma visão positiva do Orientalismo, diferentemente do Said. Gente, quem é a Buonaventura?! Uma americana que se propôs a estudar o exótico oriente e mostrar a conexão da dança do ventre com a deusa Ísis! E quem é Edward Said? Um ensaísta palestino formado em Harvard que viveu em ambos os lados, Oriente e Ocidente, e virou referencial teórico a diversos pesquisadores do Oriente. Acho que comparativamente estamos lidando com uma estrangeira defensora de uma visão esotérica do Oriente ao lado de um estudioso que é voz deste mesmo Oriente, onde nasceu, cresceu e teve suas raízes, que lutou pelos direitos da Palestina e pelo fim do preconceito sobretudo contra o mundo árabe. Acho que cabe aqui o pensamento do dia do Khaled Iman, em seu facebook: algumas pessoas acham que sabem mais sobre uma cultura do que quem vive no local e faz parte da mesma.

Vamos ao artigo! Ah, alguns pontos que ela levantou pretendo discutir em outros posts. Aproveitem:

Já que estamos falando tanto de história da dança e das alterações que arte sofre quando sai do seu contexto histórico, precisamos falar sobre o Orientalismo, uma febre que conhecemos pouco no Brasil. O orientalismo nos ajuda a entender a história e a trajetória da Dança do Ventre no Ocidente.

O que é Orientalismo?

O Orientalismo começou no final do século XVIII, mas seu auge aconteceu de meados do século XIX até o começo do século XX. Foi um movimento generalizado de artistas e estudiosos que estudavam o que eles denominaram de 'Oriente': Índia, Ásia Central, Extremo Oriente e Médio Oriente - este último que recebeu então o nome de países árabes. Há quem atribua seu início a expedição napoleônica, rumo ao Egito em 1799.

O Orientalismo foi movido por uma nostalgia que envolveu os ocidentais. Eles voltaram sua atenção aos países do oriente, que ainda 'viviam no passado', mas de forma supérflua e cheia de preconceitos. Eles viam esses povos como atrasados e subdesenvolvidos, prontos para serem colonizados. Tinham uma curiosidade pejorativa, e tratavam os povos orientais como primitivos e "portadores de uma cultura engessada que não evoluiría com o passar dos anos".

Mas, no ocidente, a falta de entendimento e respeito para com a cultura de outros povos é um costume. O Orientalismo foi mais uma febre que mostrou preguiça em conhecer profundamente a cultura oriental. Tudo então virou 'exótico'. O Orientalismo foi o maior responsável pela visão deturpada e limitada que temos dos povos orientais e seus costumes.

As idéias montadas pelos visitantes ocidentais, se tornaram febre na Europa e principalmente nos Estados Unidos. Uma avalanche de livros, poemas, quadros, músicas e danças que vendiam a imagem de um oriente que não existia. A visão 'romântica' do Oriente injetada por quase um século no imaginário coletivo, é algo tão incrustrado na nossa cultura que nos impede, ainda hoje, de enxergar o oriente de forma mais realista.

Edward Said, autor do livro Orientalism, define essa cegueira como "o oriente visto não como ele é, mas sim, como ele foi Orientalizado." E ele vai mais longe, em seu livro, ele afirma que os próprios orientais - a geração do século XX, pós Orientalismo - se vê influenciada pela definição ocidental de oriente.

Nossa falta de entendimento e interesse sobre esses povos faz com que limitemos os orientais (principalmente os árabes) a: perigosos, loucos, exóticos, misteriosos e enigmáticos.

O Orientalismo e o Baladi

Quando os orientalistas se aproximaram da dança árabe feminina - o Baladi, se surpreenderam. As bailarinas eram procuradas como mais uma atração bizarra, mas a dança Baladi, com seu erotismo delicado e movimentos sensuais, era diferente de tudo o que eles já tinham visto. Nos Estados Unidos do século XIX as mulheres ainda dançavam na ponta, de forma etérea e os primeiros vestígios da dança moderna estavam acontecendo.

Encontrei essa foto em alguns sites da internet como sendo de Kutchuk Hanem, uma das bailarinas baladi mais importantes do século XVIII, porém a internet nem sempre é algo confiável! Se alguém souber, afirme para nós!

Como a profissão de bailarina nos países árabes tinha má fama, mulheres 'de família' não dançavam. A dança sobreviveu por muitos anos nos cabarés, sendo executadas por prostitutas ou mesmo bailarinas que eram marginalizadas também. Com essa parte da história, nós conseguimos entender por que a Dança do Ventre (até então o Baladi), até hoje carrega o tabu de ser uma dança vulgar.

A imagem e importância de uma bailarina, está sempre associada com a posição da mulher na sociedade em que sua dança está inserida. Enquanto Duncan, Ruth St. Dennis, Maria Sallet e outras bailarinas americanas e europeias foram heroínas e revolucionárias, respeitadas pelos mais altos níveis sociais (há quem conteste essa colocação), as bailarinas árabes eram a escória da sociedade.

Por isso, em meados so século XIX - precisamente - desde 1834, segundo Wendy Buonaventura - as bailarinas egípcias estavam sendo exiladas. Com a febre do Orientalismo elas foram em massa para os Estados Unidos e países europeus. Na Europa o Orientalismo não foi tão forte, ele competiu com as novidades trazidas pela Revolução Industrial.

O Baladi então tomou os Estados Unidos e estava presente em shows, eventos, reuniões e cafés. A grande atração da época eram as bailarinas exóticas vindas do oriente. É nessa época que começa a ocidentalização da dança que transformou o Baladi, na Dança do Ventre que conhecemos hoje.

Uma pausa na história: Os orientalistas deixaram resumos muito fantasiosos sobre as apresentações do Baladi nos países árabes. O Baladi - que nos Estados Unidos acabou conhecido como Bellydance (Dança do Ventre) - é praticamente ocidental. Existem especialistas - como eu já ouvi do próprio Yousry Sharif - que afirmam que a Dança do Ventre que chamamos de Egípcia é na verdade, americana com toques de Baladi.

O ocidente comercializou a dança Baladi para torná-la mais atrativa. Esse fato desvalida os argumentos desesperados de bailarinas que pregam a essência da Dança do Ventre Egípcia acima de qualquer crítica. Não podemos afirmar que a Dança do Ventre que aprendemos hoje seja parecida com sua origem. O que nós aprendemos já é uma deturpação, então, qual o fundamento em manter essa discórdia a cerca o que 'é ou não Dança do Ventre'?

Voltando...

A Dança do Ventre

As bailarinas árabes que dançavam nos Estados Unidos não tinham técnica. A dança Baladi era intuitiva, passada de geração para geração, sem registros manuscritos muito menos visuais. Quando a Dança do Ventre - como então havia ficado conhecida - ganhou fama, chamou a atenção de bailarinas profissionais e deu-se o começo da mais importante revolução da dança árabe.

Profissionais renomadas e vanguardistas aplicaram na Dança do Ventre as técnicas de Ballet e Dança Moderna. Ruth St. Dennis foi a representante mais forte, a consagradora da Dança Moderna, gostava de colocar em suas danças movimentos de outras culturas e encontrou na Dança do Ventre uma de suas paixões.

Ruth St. Dennis é a maior responsável pelas imagens estereotipadas que temos de bailarinas árabes. Como era muito influente nos Estados Unidos - a primeira dama da dança americana ditava moda. As próprias bailarinas árabes se influenciaram com seu estilo e foram procurar as técnicas de dança moderna para melhorarem suas performances, já que as profissionais de outras áreas estavam ganhando mais espaço.

Outras bailarinas também tiveram influência do Orientalismo no seu trabalho, entre elas, Isadora Duncan, Martha Graham e Doris Humprey. As duas últimas alunas da escola Dennishaw, de Ruth St. Dennis e seu marido Ted Shaw.

Palavras de Wendy Buonaventura, em seu livro The Serpent of the Nile: "Como todas as formas de arte, trazidas para fora de seu contexto cultural e oferecida comercialmente, ela perdeu algo de seu espírito essencial, assim como sua integridade de forma." Ouso acrescentar a essa frase, que em meu ponto de vista, não apenas perdeu, também ganhou o mundo e se adaptou ás outras artes então existentes.

Todas as danças do mundo passaram por esse tipo de transformação e a Dança do Ventre foi apenas mais uma delas. Deste ponto pra frente a dança passou a ser apresentada nos cabarés americanos e sofreu forte influência Hollywoodiana nas roupas, maquiagem, cabelo e até nos movimentos.

Quem já assistiu Gilda, com Hita Hayworth (lindaaaa!!!!) de 1946, consegue perceber resquícios de orientalismo em suas performances. O cinema egípcio também encheu as telas com bailarinas árabes já estilizadas com influências americanas. E o resto é história...

O mundo das artes é assim, nada é original, nem puro, nem está livre de miscigenações. A arte é livre e etérea, serve para comunicar códigos sociais ou apenas pessoais, mas não pode ser restringida a fronteiras geográficas. Nem nossas estrelas (Randa, Lulu, Soraia, Dina) podem sair por aí afirmando que fazem a Dança Tradicional, aliás elas não afirmam, nós é que costumamos afirmar por elas.

Sei que tenho batido muito nessa tecla, mas esse assunto é muito importante para nós que queremos olhar a Dança do Ventre como arte!

A dança é atemporal, aprisioná-la a datas e regras é excluí-la da eternidade.

Obs: Escrevi esse texto com minhas palavras baseada em livros lidos e aulas de aulas de história e filosofia. Existem muitas inexatidões sobre o Orientalismo. É bem provável que vocês encontrem divergências e contradições com outras fontes. Abaixo, cito dois livros que abordam o orientalismo de forma bem prática. O de Wendy Buonaventura é voltado à Dança do Ventre, ela tem uma visão mais otimista a respeito do Orientalismo. O de Edward Said é mais polêmico, pessimista e racional.

Fonte: http://www.dancadoventre.art.br/

domingo, 11 de março de 2012

Dança do Ventre não é Culto à Deusa!!!

Estou fazendo um alerta muitíssimo sério: cuidado com os workshops que rolam por aí de dança do ventre! Dança do ventre não é religião, nunca foi, ela é uma modalidade de dança com regras, estilos e ritmos próprios. Acredito que todas saibam perfeitamente disso, mas tenham cuidado para não encontrar pessoas "super gabaritadas" que vão soltar o maior papo de matriarcado e deusa-mãe para deturpar toda a ideia que a dança do ventre tem como arte.

Hoje eu tive uma prova inefável disso: meu pé torcido, beleza, fui num workshop de uma dançarina das antigas, que estava morando no exterior. Falaram tanto dela, e como era barato, me matriculei para fazer, mas ninguém sabia de nada do conteúdo do workshop. Eu até mandei mensagens pros organizadores, mas nada. Ok, pensei, ruim não deve ser, no máximo algo descartável. Eu tive foi uma surpresa bem desagradável!

Primeiro que, me irrita profundamente falarem de orientalismo sem saber o que é orientalismo! Gente, orientalismo está longe de ser uma coisa boa, é uma visão preconceituosa do Oriente, uma visão que pega várias culturas de diversos povos, países, e junta num saco só e diz: Oriente! Que imagina esses mesmos lugares como fantásticos, misteriosos, esotéricos, sendo que não são! É a visão do explorador europeu, que usava a argumentação de que o Oriente era primitivo para justificar a sua dominação.

E ora, ora, não é isso que a muitas dançarinas ainda fazem? A dança do ventre não pode ser cultura árabe ou mesmo uma construção ocidental, mas um culto à deusa-mãe na era do matriarcado (primitividade). Só que uma dança vista como parte da cultura de países islâmicos e cristãos, poderia ser uma dança pagã de culto à Deusa?! Cara, é claro, óbvio, que não!!! Se formos olhar a origem da dança de maneira geral, poderíamos dizer que TODAS as danças surgiram na pré-história e foram moldadas ao longo do tempo. Por que só a dança do ventre precisa ser algo primitivo? Tá na cara que é uma visão orientalista do Oriente! O Oriente primitivo, selvagem, sensual, esotérico, e por aí vai.


Também é sabido que a dança do ventre veio até nós por meio do orientalismo, e que ela surgiu no séc. XIX mais ou menos da maneira que a conhecemos hoje em dia. Mas já está na hora de superar isso, não? Está mais que na hora dela ser prestigiada como modalidade de dança e cortar essas amarras que a associam a uma imagem preconceituosa do Oriente, esquecendo e negando a cultura em que a dança se desenvolveu, que é a cultura árabe, e buscando uma origem totalmente nebulosa da pré-história. Além disso, todos podem ter a sua religião, mas divulgar como conhecimento científico e comprovado que a dança do ventre é um ato religioso, um culto à deusa-mãe - como ouvi hoje: "a minha deusa interior seduzindo você" ui - é falta de respeito! A dança do ventre não é ritualística e nunca esteve ligada a isso desde que surgiu no séc. XIX. Se antes havia uma dança ritualística, em quantas facetas ela se dividiu e como ela chegou até nós? Será o tango ritualístico? Ou o samba? Por que insistem na dança do ventre?

sexta-feira, 9 de março de 2012

Repensando a Dança do Ventre (por Carol Louro)

Compartilho com vocês alguns trechos do Trabalho de Conclusão de Curso da bailarina Carolina Louro (KK - SP), apresentado em 2005 na PUC-SP para o Curso de Comunicação das Artes do Corpo. O que mais me chamou atenção foi a abordagem do tema "o esteriótipo da dança do ventre", pois a monografia procura desvincular a visão leiga mais recorrente da dança do aspecto sexual atribuído a ela. Entender o caminho que a dança percorreu e o que ela é ou foi hoje e ontem é o passo fundamental para eliminar os preconceitos.
"Já foi o tempo em que a dança do ventre era tipicamente árabe. Hoje, ela pode ser apreciada em diversas partes do mundo, inclusive em lugares que não só aderiram à sua prática como também acrescentaram informações colocando a experiência em evolução. A difusão e a aceitação desta arte é algo realmente impressionante, todavia, a “eroticidade” mal interpretada parece estigmatizá-la. Esta, assim como outras marcas que a dança do ventre foi adquirindo no decorrer dos seis mil anos de sua existência, parece ser um obstáculo para aqueles que querem estudar e apresentar um novo viés para esta arte.
A Dança do Ventre tornou-se popularmente conhecida, no Brasil, através da novela “O Clone”, exibida em 2002. Escrita por Glória Peres, o melodrama trouxe um pouco da cultura árabe e mostrou que a dança pode ser apreciada como forma de entretenimento. Como tudo que é tratado através da comunicação de massa, a dança do ventre também se tornou uma febre. Milhares de meninas que estavam iniciando seus estudos começaram a dar aulas para atender a proliferação dos inúmeros lugares que estavam ensinando a dança do ventre. Todo mundo queria ser Jade (protagonista feminino) e dançar para conquistar Lucas (o galã). Conhecida como uma dança sensualíssima, acabou por se tornar “uma arte de sacolejar os quadris” (Minha Revista, 2001). De atriz, Giovanna Antonelli passou à instrutora da técnica e, por conseqüência, da “arte de seduzir”. Apareceu em muitas revistas ensinando passos através de fotografias.
Esta dança mergulhou em profunda deturpação. O fato de ser uma “arma para a sedução” (Minha Revista, 2001), fez com que muitas mulheres se tornassem bailarinas de dança do ventre da noite para o dia. Usar a dança para apimentar uma relação a dois, tornou-se uma meta a ser conquistada em menos de um mês de aula, não raramente associada a técnicas de strip-tease e assim por diante. Contudo, este boom sofrido pela cultura árabe, ao invés de elucidativo, fez retroceder as imagens dos séculos dezoito e dezenove quando, devido às novas rotas de comércio, a moda árabe atingiu a Europa, adentrou as casas, inspirou a moda, os costumes e alguns segmentos das artes. Napoleão e sua expedição, em profundo deslumbramento, principalmente pelo Egito, produziram volumosas páginas a respeito do “fascinante e misterioso” Oriente, dando início à Era Orientalista, período em que foi construída uma espécie de “imaginário oriental” altamente sedutor e desejoso reforçado pelas pinturas da época que retratavam mulheres misteriosas e nuas. Em seu livro, Orientalismo - o Oriente como invenção do Ocidente, o ensaísta palestino Edward W. Said (1978) descreveu a invenção de uma falsa imagem de grande parte do que conhecemos como árabe. Ressaltou que havia antes de mais nada uma necessidade de suprir variados interesses, muito mais do que um compromisso com um contexto determinado. Orientalismo nada mais era do que um discurso de poder. A apropriação equivocada da cultura árabe resultou em equívocos significativos em relação ao corpo da mulher oriental, porque este foi submetido a um olhar carregado de valores culturais distintos.
Não há registro, por exemplo, de que nem as mais “ousadas” das bailarinas egípcias, conhecidas por ghaziya (plural ghawazee), utilizassem roupas que deixassem o ventre a mostra, as pernas de fora e os seios expostos. É importante perceber que, hoje, a roupa de dança do ventre tornou-se uma indumentária exótica, porque carrega a intenção ou interpretação da bailarina, o que muitas vezes faz com que a roupa apareça mais do que a própria, deslocando o olhar do espectador para o corpo-objeto. [A roupa composta por duas peças que deixa o ventre à mostra] tornou-se uma marca. Há evidências de que esta roupa “congela” a dança, pois insiste no mesmo significado, aquele configurado na nossa sociedade.
O povo egípcio é alegre e muito dançante. São ousados e extremamente festivos. A dança do ventre no Egito conseguiu sobreviver à religião mulçumana, que é super rígida em relação ao comportamento das mulheres. Todos amam esta dança e a tratam com respeito. A diferença é que embora a considerem sensual e atraente não a tratam especificamente como “sexual”. A mulher árabe quando dança, é vista em primeiro lugar como uma mulher dançando, por isso sua sensualidade é expressa de forma natural, espontânea, da forma como ela entende esses signos. O olhar, a sedução, o jogo e o improviso fazem parte de uma apropriação com o público. A bailarina ocidental, fruto de uma cultura de espetáculo representa e “espetaculariza” o que é ser mulher, porque dentro da autonomia que o próprio palco lhe dá, acredita que “tudo pode” ao dançar, e então, não raramente interpreta de forma esteriotipada essa mulher poderosa, sedutora e sensual.
É preciso salientar que não há como negar a sensualidade da dança do ventre. No entanto, o motivo pelo qual a sedução na dança do ventre é tratada e olhada de maneira “sexista” ocorre principalmente por duas razões: (1) a desinformação generalizada, pois há um cultivo ao misticismo exagerado e a criação do mito bailarina; e (2) um forte preconceito em torno da mulher, figura sedutora, gerado e introjetado pela igreja medieval.
Há uma displicência por parte dos profissionais da área de Dança do Ventre que insistem em utilizar o lado sensual da dança como marketing, o que acaba destinando-a a um “recurso amoroso” e dando vazão à mídia para igualar a dança do ventre ao pompoarismo e ao strip-tease.Transformada em objeto utilitário, podemos dizer que o slogan da dança do ventre está vinculado aos benefícios que ela traz. Virou um “pacotinho”, cujo conteúdo inclui: auto-estima, sensualidade, feminilidade, mistério e fertilidade. Pode ser “comprado” e “consumido”, mostrando resultados nas primeiras aulas. Este excesso de características exóticas e pejorativas atribuiu à dança do ventre um misticismo exagerado e fez com que muitas histórias sobre sua origem fossem inventadas e vendidas como verdadeiras, apenas com o intuito de manter estável o imaginário de lugares que só conhecemos através dos filmes."
Quem se interessou e deseja ler na íntegra, a monografia está disponível no seguinte endereço: http://pdfcast.org/pdf/repensando-a-dan-a-do-ventre-an-lise-cr-tica-e-os-novos-campos-de-aplica-o-2005-carolina-louroLink

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