domingo, 20 de novembro de 2011

Primeiros Passos de Zahra Li

Zahra Li iniciou seus estudos na dança do ventre em 2000, tornando-se profissional em 2008. Integra o grupo folclórico 1001 Noites ao lado de seu esposo Fabrício Dabke e juntos promovem eventos e shows, além de divulgar a dança de casal (Rakhsa), o derbake ao vivo e apresentações de Dabke em roda. Em 2010 conquistou o Selo de Qualidade Khan el Khalili e hoje integra o quadro das melhores bailarinas da Casa de Chá Egipcia. Nesse mesmo ano passou também para o quadro de bailarinas do Selo Oriental Lulu From Brazil. Atualmente Zahra Li é professora e coreógrafa da cia Zahra Bellydance. Ela nos concedeu uma entrevista gostosíssima sobre seu início na dança ventre. Aproveitem!
Porque você começou a dançar a dança do ventre?
Já ouvi dizer que a dança nos escolhe e é verdade, mas em relação a essa arte fui pega de mansinho. Por incrível que pareça não foi às mil maravilhas meu primeiro contato com a dança do ventre. Eu era uma menina muito reclusa, fechada em meu mundo, estudava em colégio de freira e minha melhor amiga vizinha era de família árabe. Eu mantinha certo fascínio por aquela cultura diferente, que me instigava e eu achava essa minha amiga linda e com um trejeito que jamais me esqueceria...Mal poderia imaginar que anos mais tarde estaria realizando o ritual de cortejo árabe de seu próprio casamento e de sua irmã e primas também! Quando soube que abriu a modalidade dança do ventre em uma academia próxima de casa, no ano de 2000 senti uma vontade indescritível, pois no fundo buscava algo que me libertasse das amarras que sentia. No colégio de freira eu não podia nem falar que fazia, ou achariam que é pecado! No entanto eu sentia que precisava buscar um algo a mais em minha vida até então limitada. Porém, não fazia idéia de como essa dança seria a grande missão de minha vida. No início fazer a aula para mim era a quebra de um paradigma, então minha motivação só surgiu e foi aumentando com o tempo na medida que fui descobrindo nessa arte meu sentido de viver.
Como foram as primeiras aulas? Quais eram as suas dificuldades e como você as superou?
Meus primeiros passos foram literalmente desastrosos! Eu morria de vergonha e usava blusão largo na aula, mesmo sendo magérrima. Eu me sentia desajeitada olhando para o espelho e mais uma vez tinha uma amiga minha que dançava super desprendida e eu morria de inveja rs. Apesar disso desde a primeira apresentação eu chamava muita atenção. Lembro de uma apresentação feita em TV, em um programa da Band que fomos dançar com o grupo da minha primeira professora e quando vi no vídeo eu fazendo um camelo invertido todo torto quase entrei em depressão! Rs. Engraçado que quem me olha hoje acha que foi tudo muito fácil para mim ou que já nasci com inclinação, mas não, foi tortuoso meu caminho, na verdade a aceitação de mim mesma, sempre muito ansiosa acelerava demais os movimentos, tinha medo de me assumir, de me sentir sensual e pensarem que eu era vulgar. Meu negócio eram passos agitados que não davam tempo de pensar...Lento era algo que eu preferia pular... Só com o tempo fui me soltando, mas teve época que pensei em desistir, mas felizmente minha primeira professora não deixou e me pediu para refletir e continuar. E continuei, sem ela não chegaria aonde cheguei hoje! Fiz seis anos com ela e depois dei uma parada por conta da faculdade, época que iniciei meus estudos no flamenco, mas não me encontrei. Só em 2007 que voltei a abraçar dança do ventre, porém sob nova perspectiva, cresci rápido demais, pois já mais amadurecida conseguia pegar os passos bem mais fáceis e então começou o sonho de me profissionalizar. Penso que minha superação foi mais em relação à minha auto estima. Comecei a sentir que na dança árabe tinha algo de especial, que completava algo dentro de mim. Levei sete anos para perceber isso! Foi só com o desembrulhar da minha essência é que de um mês pro outro consegui crescer absurdamente. Em 2008 passei na prova do Sindicato de dança do ventre, em 2009 me consolidei como professora de dança e em 2010 fui aprovada no Selo de Qualidade Khan el Khalili, Casa de chá egípcia onde dançam algumas das melhores bailarinas do país e em 2011 adquiri o Selo de Qualidade em dança oriental Lulu From Brazil. Atualmente trabalho em uma tríade: professora, bailarina e produtora de danças árabes ao lado do meu noivo Fabrício Dabke, um grande incentivador e fomentador da minha arte. Sem esses requisitos não me veria aonde estou, foi mais que uma superação, foi e é uma descoberta constantemente.
Uma história peculiar sua com a dança do ventre.
Na época em que comecei a fazer aula de dança do ventre vendia nas bancas uma revista grande que vinha com cds de músicas árabes. Eu ia correndo pra casa, colocava o cd e dançava sozinha sem ninguém me ver. O nome dessa revista era Khan el Khalili. Folheava aquela revista colorida, cheia de bailarinas lindas, pareciam de outro mundo...Lembro-me de ver fotos do Jorge Sabongi, diretor e dono da casa de Chá e achava aquilo tudo coisa de filme. Jamais poderia imaginar que um dia estaria lá e seria dirigida por ele e na época a Lulu From Brazil aparecia em todas as revistas, como iria imaginar que seria minha professora por dois anos e obteria seu selo? Aquilo já era um sinal creio eu, mas não conseguia enxergar. Na verdade sequer pensava que isso tudo poderia ser possível, não sabia que existia uma pré-seleção e mesmo que soubesse preferia pensar que aquilo era algo impossível, distante, etéreo. Olhava as imagens, me imaginava lá, mas apenas como as adolescentes fazem quando assistem um filme ou ouvem uma música que mexe com sua imaginação. Comprei todas as edições. Muito engraçado que mais tarde tudo foi me levando pouco a pouco para esse sonho e tudo até que virou realidade! Agora imagina entrar na mesma casa e dançar nas mesmas salas que via na revista e achava ser coisa de outro mundo? Rs

Um recado para quem está começando ou continua estudando.
O maior incentivo que quero deixar é que jamais pensem que essa arte não lhes serve, pois assim como não percebi o quanto tinha a ver com a mesma, às vezes se olhar no espelho e não se gostar fazendo algum movimento não significa que não serve para ela. Com esforço, dedicação e disciplina se chega aonde quiser. Dificuldades no caminho sempre terão, mas resultado só se conquista com muita luta, persistência e altruísmo. Jamais cesse os estudos. Cada fase precisa de uma orientação diferente. Não se prenda a apenas uma professora, busque sempre novas fontes, informações, estilos e assim vá construindo o seu estilo próprio. Poderia falar N coisas aqui, mas além das que citei, uma imprescindível: procure não criticar ou ver apenas o ponto negativo de uma bailarina dançando. Imagine-se dançando a mesma música e veja se também não cometeria erros. Ter gratidão por nossos mestres é essencial, pois cada um de alguma forma contribuiu demais para seguirmos. Agradeço a todas minhas professoras e atuais alunas, pois vejo nelas minha razão na dança. Lutei, superei, cresci e não vejo mais sentido se isso não for compartilhado. Não vejo sentido em só dançar, preciso passar além, minha dança só tem sentido se ajudar outras pessoas a dançarem também e se encontrarem como eu me encontrei.

*

Muito legal, não é mesmo? Abaixo um antes e depois da Zahra Li.
2008
2011
No Festival Lumina-Qamar deste ano

Visite o site da Zahra Li: www.zahrali.com.br

3 comentários:

Amanda Murad disse...

Amei ver vc nesta matéria!!!! Vc merece o que desejar de melhor nesta vida!!!! Estou realizada de ser sua aluna!! Parabéns as organizadoras do blog. Muita coisa boa aqui!!! Super útil este blog para nós!!!

Zahra Li disse...

Obrigada minha querida, tambem estou muito feliz de ter esse espaço privilegiado para falar um pouco sobre minha trajetoria. Sem vocês alunas eu tambem não estaria aqui, tenho muita gratidão mesmo
Obrigada Livinha pelo carinho, estou muito feliz!
beijossssssssssssss

Jéssica Alves disse...

Esse depoimento me chamou atenção por dois motivos. O primeiro pelo exemplo de superação e altruísmo dessa menina. O segundo pela beleza e simplicidade de espírito, pela humildade, por assumir tão naturalmente os bloqueios que teve. Em um mundo de bailarinas que iniciaram seus estudos de ballet com cinco meses de vida e de dança do ventre aos dois anos de idade com franca habilidade desde a primeira aula, nos sentimos mais normais ante esse depoimento. Zahra Li despe-se sem vergonha de exibir suas antigas limitações para motivar mulheres que nem conhece. Deve ser uma grande mulher além de grande bailarina. Parabéns!

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