domingo, 23 de outubro de 2011

Show me the money! - Vamos tratar de negócios


Lendo uns artigos sobre Dança do Ventre pela internet, encontrei um bastante interessante para quem também faz da dança um meio de ganhar a vida. Sim, é lindo dançar só pela arte, peace and love, etc, mas todos têm contas a pagar certo? E se podemos unir o útil ao agradável, por que não?

No entanto, por que será que quando temos que
falar em ganhar dinheiro com algo que gostamos tanto bate aquele nervoso, aquela insegurança? Por que é tão difícil cobrar um preço justo quando se trata de algo que nos proporciona tanto prazer? Vejamos. Seria pela ideia de que o dinheiro está ligado à ambição, ao luxo ou à cobiça? Ou porque cobrar mais poderia desvirtuar seu amor pela dança? São ideias tão entranhadas em nossa cultura que muitas vezes nem sabemos por que nos sentimos mal em misturar dinheiro com uma atividade que no começo era apenas fonte de prazer.

Muitas dançarinas nunca pensaram em fazer da dança uma forma de ganhar
dinheiro até que a situação simplesmente surgisse em suas vidas. É um convite para uma festa, depois para dançar no restaurante de um amigo... Tudo na amizade, sem cobrar nada. Mas quando você se dá conta, percebe que aquela atividade está te tomando mais tempo e energia do que deveria (e dando mais certo do que você havia imaginado). E aí surge a questão: não seria esse o momento certo para fazer de sua dança um bom negócio? É claro que você não precisa escolher a dança como forma de ganhar dinheiro, mas apenas em mente que não há nada de romântico em bancar o "artista miserável" ou em dançar apenas pelo "sacerdócio" quando lhe falta dinheiro. Fazer isso é desrespeitar a sua vida, o seu espírito e também a sua arte.
Do outro lado da história, das dançarinas que optam por fazer da arte um meio de vida, muitas ainda não sabem como valorizar sua dança e, quando digo isso, não me refiro apenas a cobrar o preço justo por seu trabalho. Isso é importante sim, mas ao abraçar um processo de negociação que envolve dinheiro, devemos estar atentas para que nos portemos como verdadeiras profissionais nesse meio e, assim, tenhamos nosso valor devidamente reconhecido. A mudança de perspectiva não está apenas na quantia cobrada, mas sobretudo na segurança que devemos passar a um possível cliente.

Antes de pensar em valores, uma dançarina deve ser muito objetiva quanto ao que tem para oferecer. Dependendo da sua idade, experiência e gostos, o mercado pode variar desde shows em estabelecimentos específicos até às aulas de Dança do Ventre. Além disso, há a confecção de roupas, o patrocínio de eventos, as vendas, etc. Decida de qual lado quer ficar e, em seguida, estabeleça um "padrão", um valor mínino a ser cobrado por seus serviços.


Segura de si

Auto-confiança é outro fator importante. Para demonstrar isso, veremos dois diálogos que exemplificam uma negociação de uma dançarina com um possível cliente. Não se atenham aos valores ou aos nomes. São todos fictícios :)

Exemplo 1

O telefone toca...

Sr. Ali: - Olá, meu nome é Ali e eu quero contratar uma dançarina de Dança do Ventre. Quanto você cobra por evento?

Você: - Eh..., bom, humm, depende muito. Eu geralmente cobro R$ 100, mas... bom, depende.

Sr. Ali: Você é uma boa dançarina? Qual é a cor do seu cabelo? Quantos anos você tem? Os clientes do restaurante costumam dar boas gorjetas.

Você: Bem, eu sou boa sim. Eu estudei com uma grande professora, a Madame Turkish, por dez anos. Sobre as gorjetas, eu... ahn, parecem boas... mas eu realmente preciso de R$ 100.

Sr. Ali: Desculpe, mas vou procurar por um dançarina iniciante. Elas cobram uns R$ 30 e ainda dançam por duas, três horas...

Exemplo 2

Sr. Ali: - Olá, meu nome é Ali e eu quero contratar uma dançarina de Dança do Ventre. Quanto você cobra por evento?

Você: - Olá, Sr. Ali, quem fala é a assistente da dançarina Shadiyah. Ela está um pouco ocupada. Será que posso ajudá-lo? Bom, os preços são os seguintes: o Show Bronze custa R$ 100, com um show curto com trajes típicos; o Show Gold sai por R$ 250, incluindo um percussionista e trajes típicos autênticos; e temos também o Show Platinum, que custa R$ 1500, com música ao vivo, decoração e trajes no estilo Las Vegas, danças com espadas, cobras e castiçais. Qual dos shows é o melhor para o seu evento?

Sr. Ali: - Ah, ela vai ganhar mais do que isso em gorjetas! Não se preocupe muito com dinheiro.

Você: - Desculpe, mas a Shadiya não trabalha por gorjetas. Na verdade, se ela receber algum dinheiro da plateia, vai preferir repassá-lo ao senhor, por isso, suas despesas podem acabar sendo menores.

Sr. Ali: Bom... tudo bem. Eu acho que vou ficar com o Show Gold. Mas ela é boa dançarina mesmo?

Você: Sr. Ali, ela é excelente. Shadiyah tem muita experiência, já participou de grandes eventos e tudo isso será listado nas informações que enviaremos ao senhor junto com o contrato. Mas antes, eu preciso checar o calendário dela para ter certeza de que ela estará disponível na data de seu evento, então retorno a ligação. Qual é o seu telefone e seu endereço, por favor?

Nem é preciso dizer que o segundo exemplo, embora um pouco exagerado, é provavelmente o caminho mais seguro para uma negociação de sucesso. Tudo isso porque:

1) É muito mais fácil falar de si mesma se você assumir a voz de uma assistente.Isso é comum no meio artístico. Além disso, esse artifício faz perguntas como idade bem mais impessoais e mais fáceis de se responder.

2) Dar três opções de show/preço dá a você três chances de conseguir o trabalho. E isso te dá uma ideia de quanto o cliente pode pagar por seu show.

3) Evitar gorjetas é bom para sua imagem. Aqui no Brasil, não é tão comum, mas em outros países é uma prática quase certa nos shows de Dança do Ventre em restaurantes, por exemplo, e que pega mal pacas.

4) Assinar contrato para qualquer show, de qualquer tamanho, não é frescura. Se for um amigo e você não se sentir bem em ser tão "oficial" envie uma carta mais informal confirmando o horário, os termos, o preço, etc. Pequenos detalhes podem causar grandes mal-entendidos, especialmente entre amigos. Não comprometa seus relacionamentos por tão pouco.

Em resumo, o mais importante é manter sempre uma postura profissional e confiante. Afinal, quem, além de você mesma, é capaz de assegurar tão bem a qualidade de seu trabalho? Por isso, dê à sua arte a importância que ela merece e sua carreira de dançarina terá tudo para ser brilhante (e os negócios também!).

Publicado originalmente em Amaya - Wise Woman Dancer

3 comentários:

Beatriz C. disse...

Adorei o texto!!
Tenho muita dificuldade na hora de cobrar os shows mesmo... e tem um tempinho que não me contratam pra nenhum, snif snif!

besitos
http://meudiariociclotimico.blogspot.com

Manu disse...

Olá! Texto muito bom!

Particularmente, não cogito desenvolver carreira profissional pelo seguinte medo: a dança é minha forma de contato comigo, minha forma de me expressar (acho que é assim para a maioria das meninas que dançam!). Querendo ou não, poucas pessoas têm dinheiro sobrando e é ai que reside o meu medo: aos poucos, de uma grana extra, esse dinheiro passa a fazer parte de nosso planejamento financeiro, logo, passamos a depender desse dinheiro e por causa dessa dependência, podemos começar a moldar a nossa dança, correndo risco da nossa dança perder identidade por medo de desagradar a platéia e perder a fonte de renda! No caso de ser profissional e depender exclusivamente dessa renda, pior ainda... vc acaba refém principalmente dos modismos (as pessoas em geral esperam que vc siga os modismos e não segui-los pode ter um impacto negativo na sua imagem). Enfim, pra mim, querendo ou não, essa dependência financeira se torna um dos fatores que vão influenciar na dança, então prefiro manter estas duas coisas separadas!

Hanna Aisha disse...

De maneira alguma, como não vivo disso, o dinheiro que eu ganho com DV entra em meus planejamentos financeiros.

E já perdi apresentação particular porque a moça não queria pagar míseros R$ 150,00 para um lugar longe. Nem me dei o trabalho.

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