sexta-feira, 24 de junho de 2011

Recordar é Viver: O Clone

Então eu disse que falaria sobre O Clone de forma mais detalhada! Não tenho assistido à reprise, nesse horário estou trabalhando e as impressões que trago da novela são basicamente do que ainda assisto no youtube e das minhas lembranças de dez anos atrás (como o tempo passa!).

O que mais gostei da novela, que eu me lembre, foi a história de amor inicial da Jade e do Lucas. Acho que não fui a única, pois já encontrei no youtube uma versão de vários capítulos com essa parte. Depois vieram todas as reviravoltas da novela, e ficou aquela "novela" mesmo, que eu não tinha (e nem tenho) paciência para acompanhar diariamente. Eu lembro que na época foi um bafafá porque tinham acabado de acontecer aquele atentado às Torres Gêmeas, e até li uma crítica da Maria Helena Amaral (ela sempre reclamava de tudo, mas eu sempre lia as resenhas dela no jornal O Dia) falando que era a maior falta de sorte a novela estrear num momento tão turbulento. Ledo engano! Acho que isso aguçou a curiosidade das pessoas, mas cabe aqui informar que a novela não veio tirar nenhum preconceito ou trazer a imagem do mundo árabe tal como ela é, muito pelo contrário!

A novela passa no Marrocos, e claro, para facilitar a vida de quem a assistia, a autora fez um mix de todas as culturas do mundo árabe-islâmico para montar o núcleo muçulmano da novela. Detalhe que parece que as características ortodoxas, mais a cara da Arábia Saudita (bem longe do Marrocos) foram as privilegiadas. O que a novela mostra, detalhadamente:

1 - Todas as mulheres fazem dança do ventre: isso é um traço da cultura egípcia, principalmente. Lá é realmente comum as mulheres dançarem e levarem isso para seu casamento como um plus para a sedução;

2 - Mulheres não trabalham, nem estudam: aqui a cara dos países extremistas, nada que seja comum nos demais países árabes. Quer dizer, quem leu aquele livro bizarro "A Princesa", sabe que até naquele ambiente repressor, a Sultana fez faculdade de filosofia. Claro que na maioria das novelas, o núcleo principal é podre de rico, então na maioria das vezes as mulheres, se trabalham, é quase por lazer, não por necessidade. De qualquer forma, as muçulmanas não são impedidas de estudar e muito menos de trabalhar! Isso depende muito mais da cultura local do país, do que da religião. Para os países mais fechados, como no Paquistão, geralmente as médicas são muito necessárias para atender às mulheres, atuar profissionalmente no mundo externo não é exclusividade masculina.

3 - Todos os muçulmanos são poligâmicos: novamente muito mais ligado à cultura local. No islã há a permissão de se ter até 4 esposas, mas isso não é para o cara montar seu harém pessoal. Metade da religião para um muçulmano é se casar, então para "resolver" o problema de mulheres solteiras (que por causa das guerras, etc, geralmente eram a maioria na população), permitiram que elas "dividissem" um marido. Bem, nem toda muçulmana tem que aceitar a poligamia do seu marido, nos contratos de casamento ela pode exigir que seja a única esposa. Além do mais em alguns países poligamia é crime! Como no Brasil! E a religião não fica acima da lei!

Tem mais alguns detalhes, mas não vou me ater a todos eles. Só digo que essas discrepâncias geraram até críticas do embaixador do Marrocos na época, pois a cultura que mostraram na novela não representava seu país, mas uma massa de vários hábitos de outros países e culturas para dizer que era "árabe". Tem até uma tese de doutorado falando sobre a novela aqui.

Ahhh, mas e o boom que a dança do ventre deu por causa da novela? Aquelas pulseiras-anéis? Eu tinha uma linda, que usava para ir para a escola. E aqueles motes? "Vai queimar no mármore do inferno", ou o famoso "inshallah", falado na pior entonação possível (coisas que descobrimos depois que estudamos o árabe). Eu lembro que eu morria de rir com a Jade discutindo com a empregada dela: a pobre vinha falando um monte de coisas em árabe, e a Jade virara e praticamente soltava "ah, vai pastar". E a dança do ventre da Giovanna Antonelli? Sinceramente a versão hispânica conseguiu ser milhares de vezes pior. A Jade até que enganava!hehe. E aquela música? "Someeeeente por amoooor". Ai não, agora que lembrei, ela vai ficar o dia inteiro na minha cabeça! Nooooooooo!

Aqui um vídeo feito por fãs (internacionais):


Bem, isso foi o que mais ou menos consegui lembrar e contar. Alguém lembra de mais alguma coisa?

8 comentários:

Tina disse...

Tava vendo o vídeo da versão hispânica da novela e achei engraçada aquela parte em que o Lucas vê a Jade dançando e os dois se apaixonam à primeira vista. Qdo a atriz para e olha pra ele, ao invés de ela fazer uma cara do tipo "é ele. Maktub, tava escrito", a mulher faz uma cara de "putz, agora ferrou! Ele me viu!" hauahuahauhaua

Cris disse...

Oi Celia!
Não sei se vai lembrar, mas fui eu que fiz um post no meu blog defendendo tanto a Jade quanto a moça que faz DV como Leia, de Star Wars.

Bom, eu sou COMPLETAMENTE apaixonada por O Clone e faço questão de rever todos os dias. Se tivesse em DVD, eu comprava.

Na época, pelo menos para mim que ainda era adolescente, serviu muito para quebrar preconceitos. Especialmente nos trechos em que Tio Ali cita trechos do alcoorão e os explica... creio que nessa parte não erraram muito. E foi graças à isso que eu entendi que lá as mulheres não são reprimidas como a gente achava aqui e que elas já tinham há séculos direitos que a mulher ocidental só conquistou no séc. XX.

Agora que estou revendo, entendo melhor algumas coisas que na época ainda ficaram confusas para mim.
Então vou comentar o que voc~e escreveu no post, de acordo com o que tem sido reprisado, ok?

Sobre o "mix" do mundo árabe: é dito em alguns capítulos que eles não são, exatamente do Marrocos.
O Tio Abdul, que é o mais radical de todos, vem de uma tribo do interior do Paquistão e nunca teve muito contato com tecnologia.
E, naturalmente, ele sendo o mais velho da família levou seu pensamento e jeito de viver para todos os seus descendentes.

Também é dito várias vezes que eles têm amigos e familiares no Egito, e vão lá a negócios com frequência.
Há também menções a parentes de outros países árabes, como Líbano.
A outra parte da família de Mohamed e Said [parte de mãe] vêm de muçulmanos que haviam se estabelecido no Brasil [São Paulo] e depois se mudado para o Marrocos. Daí todos eles falarem português fluente.

Sobre as mulheres não trabalharem, a culpa é meio que da Jade.
Tio Ali é um homem do mundo, que conhece bem o Ocidente e respeita todas as culturas e religiões - tendo o Albiere, um ex-celibatário como grande amigo. Logo que a Jade chega em sua casa após a morte da mãe ele pergunta o que ela gostaria de fazer, ela pede pra continuar a estudar e fazer facul de Medicina e ele permite. Quando ela é proibida de estudar é como punição por sua rebeldia, ao insistir em se relacionar com alguém fora da religião [Lucas].
Mas o Tio Ali não é contra e sempre cita Hadja - uma das mulheres do profeta Mohamed - que trabalhava fora e tinha negócios próprios.
Já o personagem Mohamed fica radical com relação à criação da Samira tanto por influência do Tio Abdul, quanto pelo meio em que eles vivem [São Cristóvão - RJ] quanto por medo de que ela se torne tão rebelde quanto Jade.

Sobre a poligâmia. Eu to cansada de explicar para minha mãe que a religião não está acima da lei, mas ela continua batendo o pé que um muçulmano aqui poderia ter mais de uma esposa.
Mas sobre a novela, o Tio Ali tem 4 [depois 3, pois uma morre], mas sempre diz que se arrependeu disso pelas dores de cabeça e não recomenda a ninguém.
Said não queria a segunda esposa, mas pegou por causa do comportamento de Jade.
E no caso de Mohamed e Latifa, há essa cláusula no contrato de casamento e, de qualquer forma, Mohamed NÃO deseja uma 2ª esposa.
A explicação da permissão da poligâmia [para não deixar desamparadas as mulheres solteiras] é bem explicada na novela.

Por fim, dá para perceber que a novela mostra uma parcela muito mais conservadora e tradicional do mundo islâmico, que sabemos que não é unânime.

Ah, sim... a versão hispânica é simplesmente ridícula!!! Para mim, só serve para passar raiva... achei extremamente distorcida do original pelo pouco que vi.
E aproveitando o comentário acima da minha xará, nesta cena em que ela vê o Lucas pela 1ª vez a Giovanna deixa o véu cair naturalmente, demonstrando o susto do momento. Na versão hispanica ela abaixa o véu, como se fizesse de propósito e não como uma coisa instintiva.
É uma interpretação muito forçada.

Celia disse...

Olá Cris!
Muitíssimo pertinente seu comentário! Nada como uma fã da novela para saber todos os pormenores e as motivações da autora para cada personagem. Olha, não que seja picuínha, mas acredito que essa explicação toda tenha sido incluída depois que os muçulmanos começaram a chiar. Mas também pode ser que ela já tivesse em mente colocar uma família com várias etnias árabes para pincelar um pouco de tudo. Eu acredito que uma ascendência não fala mais alto que a cultura local em que se vive. Eu tenho uma amiga professora que é muçulmana xiita, de família síria, que é totalmente brasileira, nem usa véu, e super religiosa.
Quanto a desmistificar preconceitos, claro, você é uma pessoa iluminada, conseguiu perceber os detalhes que a novela jogou para aproximar cristãos e muçulmanos, mas isso não foi para todo mundo. Minha madrasta que é noveleira e não perdia um capítulo não conseguiu absorver um décimo destes exemplos, e vi que muitas outras pessoas também não. Idiota isso, mas parece que tem que ser muiiiiiiiito escrachado para romper com esses paradigmas preconceituosos, o q a maioria das pessoas lembra é da dança do ventre, do tio Abdul (como exemplo-mor de muçulmano) e da Khadija querendo um marido que dê muito ouro, inshallah!
Eu lembro uma vez na novela do Tio Ali falando que Jesus era um profeta no Islã, e eu achei o máximo. Quem eu encontro que lembra disso? Dias atrás eu tava falando com uma guria sobre um filme que detestei ("O Livro de Eli"), e ela revoltou-se comigo dizendo q eu só não tinha gostado do filme porque queria defender o islamismo! Como se o cristianismo e o islamismo fossem antagônicos!!!
Uma coisa que não lembro se a novela mostrou, mas acho super interessante, é que o marido tem que pagar um dote para se casar com a noiva, não o contrário. E se houver divórcio, esse dinheiro é da mulher, e mesmo se eles voltarem ou ela se casar com outro, continua sendo só dela. Também que as mulheres também podem escolher seu marido, e que ele deve ser muçulmano, mas se ela se converter depois de casada, não precisa se separar. Que virgindade não é pré-requisito para um casamento no Islã, entre outras coisas!

Celia disse...

Ah tá, quanto à versão hispânica: por que o remake tem que ter o mesmo penteado capacete de laquê para o Lucas?
E que cara de putana tem aquela Jade? Realmente em todas as cenas ela parece mais estar se oferecendo, do que se apaixonando!
E a dança? Realmente, Giovanna Antonelli arrasa perto dessa mulher. Pois ainda q a Giovanna não tenha todos os revés das dançarinas do ventre profissionais, ela tem carisma e desenvoltura, coisa que essa muchacha está anos-luz de ter: http://youtu.be/EfxxmglnAXw (esse vídeo deveria ser uma dança de sedução, mas pela cara do Zein-bicheiro, ele está com pena da moça).

Tatiana disse...

A minha professora egípcia de Singapura quando soube que eu iria para o Brasil de férias me pediu para comprar um DVD da novela. Eu expliquei que não existe e ela ficou super chateada. Disse que viu algumas partes do youtube e mesmo não entendendo nada de portugues, adorou! Agora eu não sei como ela chegou a conhecer isso.
Consigo lembrar só de algumas cenas da novela, mas foi o que me motivou a começar a dançar.

Melissa Souza disse...

Ri pelo mesmo motivo que a Tina, concordo plenamente com vocês, meninas! Essa outra versão do Clone está péssima! Sempre explico para os meus amigos que Dança do Ventre não é VULGARIDADE e sim SENSUALIDADE.
A novela deu o que falar... eu assisti ela inteira a primeira vez que passou. Agora, infelizmente, não estou conseguindo acompanhar a reprise. Tem algumas coisas que me faz rir (hoje), outras que tento compreender por não entender muito bem a cultura deles lá.
Adorei a explicação da Cris!
Ah, quanto a Celia, sem comentários para você, suas postagens são demais!
Outro dia fiz pesquisa sobre dança com velas e achei uma explicação razoável num site, mas não consegui ler nem metade. Acho que me acostumei com o jeitinho da Celia escrever e comentar as coisas...

Celia disse...

Ohhh, Melissa! Agora vi seu comentário! Obrigada!hehe. Eu tenho um "jeitinho" para escrever as coisas?! Espero que agrade sempre a todos! :p
Quando eu aprender a dançar com taças, escrevo sobre isso aqui!

Anônimo disse...

Na verdade tem sim... tem uma parte da novela que La Nazira enrola o vél de outra forma pra todos saberem que ela quer um casamento provisório... até onde isso é verdade?? Essa personagem é muito engraçada, todos estão afim dela, mas não consegue um casamento...rss... =)

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