domingo, 16 de agosto de 2009

Tabu: "Panelinha" na dança do ventre?

O google é nosso aliado... Pai Google que estás online! Muita coisa encontro na internet, muito que sei não veio de professores, de workshops, de amiguinhas... Aqui no Rio de Janeiro as grandes escolas se restringem em localidades nem sempre acessíveis a todos, e assim as informações e novidades muitas vezes também só se divulgam nesse meio. Eu, menina da Zona Norte, estagiária, não tinha dinheiro nem tempo para gastar em diversos workshops, cursos e especializações, fiquei na minha escola de dança que me trazia aquilo que eu achava importante para minha vida, e o resto? O resto eu buscava na internet!

Após criar este blog, acabei tendo maior contato com os grupos da nata da dança do ventre carioca, e a troca tem sido boa, apesar de eu não abandonar minhas raízes suburbanas. A minha primeira professora buscava maior embasamento principalmente com as dançarinas egípcias, das dançarinas estrangeiras eu conheço muita coisa, mas é engraçado como eu pouco conhecia das brasileiras, afinal eu sou brasileira! What a shame!. Recentemente vi trabalhos excelentes e outros pavorosos, mas o que me incomodou nesse meio brazuca bellydancer é a falta de críticas: elogios aos montes, ainda que rasos, mas criticar é somente tarefa das invejosas, algo um tanto hipócrita, não?

Da mesma forma vemos isso repercutindo nos blogs: muitos possuem excelente qualidade, mas tão poucos se dignificam a criticar algo na dança do ventre. E quem "ousa" fazer isso? Parece que as pessoas se armam contra qualquer crítica, como se esta só viesse de pessoas ignorantes que não sabem o que estão dizendo, que não estudaram a dança, que não tem a profundidade intelectual/artística para compreender o maravilhoso trabalho daquela dançarina ou grupo de dança (que só é acessível a poucos e nobres escolhidos, oh!). Eu fico até com medo de criticar também, pois nós podemos ser rechaçadas (ou processadas!) simplesmente por termos concepções diferentes, sermos tachadas de diversos adjetivos pejorativos, porque não concordamos com o que a "grande maioria aceita"... Será que é a maioria mesmo?

Eu amo dança do ventre desde que eu me entendo por gente! Eu colocava saias longas e ficava dançando pela casa. O que me atraía era exatamente você ser autêntica na dança, era o fato de eu ver várias formas da pessoa dançar e ser bonito, era a originalidade, o que anos mais tarde percebi que era porque não é você que se adapta à dança, mas ela que se molda ao seu corpo, à sua personalidade, é a sua alma que caracteriza sua dança: leve, graciosa ou densa, agressiva, é você quem dá a cara à sua interpretação. Mas vejo em muitos grupos a necessidade de fabricar bailarinas em massa, igualzinhas em tudo, encaixa uma pecinha aqui, outra alí, no final você estará buscando anular de alguma forma aquela naturalidade, para forjar um pseudoprofissionalismo que é colocado como objetivo de uma perfeita dançarina do ventre.

Dois exemplos que uso, que nem todos precisam concordar comigo, mas eu quero expor minha crítica: Aziza Mor Said e Suheil. Qual a diferença entre as duas, para mim? Sentimento. A primeira eu vejo um vocabulário extenso, técnica para deixar qualquer bailarina admirada, mas para mim falta alguma coisa quando a vejo dançar, por mais linda e maravilhosa que seja (e hors concours para a grande maioria das dançarinas). A interpretação de Aziza em Tales of Sahara é um dos vídeos que tem mais opiniões divergentes sobre dança do ventre no Youtube, por que será? Depende do que você está olhando quando ela dança. Eu busco algo a mais que passos corretos e diversificados. Caímos em Suheil, a dançarina que dança com a alma, para mim. Ela parece tão feliz e à vontade dançando, opa, ela repetiu aquele passo de novo, olha ela balançando a cabeça, diferente, não? Suheil está dançando, ela está dançando para ela mesma, não para os críticos, está dançando para você, para ela, para a mosquinha que está voando... Sabe o que faz uma perfeita bailarina para mim? Saber dançar com a sua essência, ouvir a música e querer expressá-la não em passos complicados ou em uma técnica extremamente elaborada, mas sabendo transmitir cada nota com seu corpo, por mais simples que seja a sua coreografia.

Nossa, Celia, muito bonito isso, mas qual o propósito? Como tornar uma atividade respeitada, passível de avaliação, estruturada, se não estabelecer o que é certo e o que é errado? Sim, mas nós estamos criticando o que consideramos errado mesmo, ou só criticamos aquilo que é diferente para nosso mundinho bellydancer? E onde estão os críticos? Será que eu só poderei criticar uma dançarina quando ninguém mais ousar me criticar? Odeio quem fala mal por falar, e só fala "lindo" para as amiguinhas, mesmo que elas dancem com a perna aberta, façam careta quando tremem e expõem as mãos como garras num básico egípcio. "Vai, amiga, você é linda, te adoro", como eu odeio isso, porque a gente poderia melhorar em tanta coisa se alguém viesse criticar para nos ajudar, e não só para nos colocar pra baixo. Claro, há críticas e "cri-críticas"... A crítica foi equivocada? Avise à amiguinha, ela merece aprender com os erros dela também...

Espero continuar ouvindo diversos "porquês" por críticas feitas, e não somente porque"ela é feia, horrorosa, é gorda, etc...". É preciso sermos sinceras quando não apreciamos tal estilo de uma dançarina, e não temos que ser moldadas até ficarmos irreconhecíveis para nós mesmas. Não estou dizendo também que a dança tem que se adequar aos vícios da bailarina, nada disso, correção neles! Braços esticados, postura, quadril encaixado, quadril e tronco separados! Criticar por isso é válido, é necessário! A bailarina tem que se desenvolver a tal ponto que a dança - milimetricamente correta - saia natural do seu corpo, agora ela tem que ser criticada e elogiada pela sua dança, e não segundo de onde veio, quem é seu professor, quantos anos se dedica à dança, se é gorda ou magra. E a ótica para analisar a dança tem que se focar em como esta bailarina nos toca: eu não quero ver nomes dançando, eu quero ver leitura musical, interpretação, entrega numa apresentação de dança do ventre!

Por isso acho bom as dançarinas começarem a criticar aquilo que lhes é estranho... Quem sabe depois você não vira admiradora de quem você criticou? Eu sempre comento "sou uma pessoa que me permito mudar de opinião", não sou uma pedra, eu sinto, eu vejo, eu conheço cada vez mais coisas e pessoas, hoje aquilo que é feio para mim pode vir a ser interessante, se eu buscar me aprofundar. A crítica fomenta o estudo e o próprio autoconhecimento, o que não podemos jamais ter é uma opinião formada simplesmente pelo grupo a que "pertencemos", temos que descobrir aquilo que verdadeiramente nos atrai. A amizade é comum, ainda mais num meio predominantemente feminino, mas ser amiga não é anular a si mesma, não é ser injusta com os outros, é preciso se libertar dessa postura egoísta!


Para todos formarem sua opinião, aqui abaixo Aziza Mor Said em Tales of Sahara, e Suheil em um solo de percussão.



16 comentários:

Mar e Ana disse...

Também acho que críticas são bem vindas! E já achei alguns lugares comentando sobre os jeitos e falta de jeitos de algumas bailarinas brasileras. Eu só leio, geralmente, nem falo nada... mas é sempre bom saber o que a gente pode melhorar!

:*

Celia disse...

Alguns blogs abrem espaços para críticas, mas elas deveriam estar em todo lugar. Como mesmo vi há muito tempo atrás no blog da Amar El Binnaz, em todas as profissões (futebol, televisão, escritório, etc) as críticas contribuem para o bom senso de seus participantes, mas na dança do ventre... Acho que as críticas não deveriam se restringir às "mal-amadas", mas a quem sabe que toda a opinião é muito importante.

Hanna Aisha disse...

Olá, Celia
confesso que qdo li o título, achei que se referia a outro assunto... hehehe mas vou fazer um comentário breve.
É muito complicadoser uma profissional de DV e sair criticando por aí, citando nomes. Tem que saber fazer e sei que tem gente que sabe fazer. Se não se sabe, creio que a melhor postura é não dar corda pro que vc considera ruim ou "errado" e valorizar oq é bom.
A maioria das mulheres faz a DV como entretenimento e somos muito emocionais, é difícil controlar os sentimentos mesmo.
Não me enquadro muito nesse grupo pq fui criada no chicote e até hoje recebo críticas das minhas amigas, que cresceram no chicote comigo. E não, eu não aplaudo nem parabenizo se eu achar que não vale a pena.
Aqui na cidade do Rio, é mais complicado ainda assumir posturas mais "ferozes"... aí é assunto pra outro tópico, sobre as panelinhas....

Celia disse...

Oi Hanna, entendi que o assunto "panelinhas" para você é bem mais amplo. Realmente é um tema ainda a ser muito explorado, não vai faltar o que falar!
Concordo com você que criticar é algo difícil no meio da dança do ventre, mas isso se deve simplesmente porque muitas das dançarinas criticam para "falar mal" e muitas ouvem críticas como "deboche". Como chegar para uma bailarina e dizer que ela tava linda, mas precisa melhorar a postura? Ela vai pensar "quem é você para me dizer isso?", como ser "alguém" desse o direito de "esculachar"! Dois erros: quem estuda e conhece, é digna de admiração, mas jamais será inquestionável e irrepreensível; e quem critica não "esculacha", mas muitos ouvidos se encontram fechados para isso. Mas como ser ouvida?
Uma coisa interessante que eu comentei num tópico recente foi sobre as paródias! As paródias são críticas também, e quem faz no Brasil? Gostaria muitíssimo de ver, tomara que consigam entender como algo bom e edificante! E quanto a só "valorizar", ficamos na mesma, desde quando criticar é uma ação abolida na dança do ventre?
Para mim essa questão de críticas tá muiiiiito relacionada às panelinhas: quem dentro do grupo critica a professora? Sua hereeege!! Ela muda de professora, professora é um ser superior que não se critica! ^^ E eu já vi como as meninas são arrogantes com grupos "adversários", lá se pode criticar até a unha do pé da bailarina.
Então se você não tinha entendido a minha relação com as panelinhas, é por causa disso. Não que só exista na dança do ventre, mas tais atitudes simplesmente conseguem anular as críticas construtivas. O meu apelo aqui, eu sei que iria ser mal compreendido, é que haja críticas, mas não "veneninhos", mas opinião própria e fundamentada!

Vivi Chaves disse...

Genteeee, essa menina pensa em tudo o que eu penso!! Palmas pra vc Célia! Concordo absolutamente com tudo o que vc disse. Concordo também com a Hanna Aisha que é difícil dar opiniões ferrenhas aqui no RJ. As pessoas nào aceitam, metade delas de alguma forma são as que contêm o poder da dança aqui, e isso significa que vc só vai dançar se passar pelo crivo delas. E a maioria é extremamente competitiva e conservadora no que diz respeito ao estilo de dança mesmo. Só é bom quem tem um determinado padrão de dança, o resto, dança "bonitinho".
Enfim....
beijinhos

Anônimo disse...

Célia amei seu blog, muito bem feito e inteligente. sou de Ribeirão Preto, faço dança do ventre a 3 anos e quando assisto alguma apresentação é isso que procuro:sentimento e emoção!!!não adianta ter técnica e não deixar a alma transparecer pelos movimentos.

bjão
Mônica Teles
Ribeirão Preto

Unknown disse...

Olá! Visite o meu site http://claudiamistika.multiply.com/
E com certeza vc vai ver textos com criticas as bailarinas e outros podres da nossa profissão.
Inclusive citei nomes como A linda Renata Lobo que confesso é linda!!! dançando, mas infelizmente é uma cópia da Saída (Argentina), sei que muita gente deve me achar louca por criticar essa mulher afinal ela dança muitíssimo bem.
Mas estou de saco cheio de clones, cópias e com esta mania que pegaram de copiar determinadas bailarinas.
Estudar estilos é uma coisa, se tornar a própria é outra.
Amei teu texto, no meu blog do multiply eu abro a boca mesmo.
vai ser um prazer receber a tua visita. bjs

Celia disse...

Oi Cláudia! Q legal a sua iniciativa, claro, as críticas não podem ser para "difamar", mas para ponderar prós e contras, e claro, para expressarmos aquilo que realmente admiramos, citando nomes ou não...
Vi seu blog! Obrigada por ter aberto um espaço para postar as minhas traduções lá, só peço, por favor, que coloque o link de onde as copiou!

Unknown disse...

É realmente há uma diferença entre as 2 bailarinas. A primeira tem mta técnica mas pouca "ginga" a segunda tem bem mais apesar da coreografia mais simples. Em 3 min ela me empolgou mas e me "envolveu" na sua dança mais do q a outra q dança por 10 min.

Anônimo disse...

É, eu também não curto muito a dança da Aziza. Acho ela lindíssima, cabelo, pele, corpo, graciosidade, enfim, mas realmente falta um "quêzinho". A primeira vez que a vi dançar foi no Khan, eu até achei que ela fosse "novata", mas depois descobri que não.
A forma como vc criticou aqui foi bastante respeitosa, eu achei. Mas como a outra moça disse, é dificil para dançarinas profissionais criticar outras profissionais por "sair" um pouco da ética.
Mas igualmente acho bastante injusto dançarinas que não são tão boas dançarinas, serem consideradas tão "bambambans" a ponto de igualarem-se a grandes dançarinas, só pela forcinha das panelinhas.

Casa Nova Bananal disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Heloísa Caridade disse...

É, realmente como a Hanna disse, eu achei que se tratava de um outro tópico, mas na verdade vc fala sobre esta questão sim, das panelinhas, mas na entrelinhas....
Eu, pessoalmente acho que criticar pode ser de 2 formas: vc entende mt do assunto, é notório saber e quer criticar a técnica, o embasamento e a profundidade do conhecimento, outra coisa é criticar por afinidade, gosto, energia e valores! Penso que posso fazer esta 2° forma de crítica livremente, e a 1° forma merece avaliar e definir critérios. Não me prende nenhuma das performances dos vídeos acima. Mas o que me capta é tb mt polêmico.....bjks meninas

Unknown disse...

amei esse blog e e realmente o que eu pensava tive um professor de dabke que sempre me dizia vc pode aprender minha tecnica mas vc sera realmente boa quando dançar aqui lo que vc é AFINAL DANÇAMOS AQUILO QUE SOMOS CASO CONTRARIO DANÇAMOS UMA FALSIDADE......

Anônimo disse...

Achei que fosse falar das panelinhas... infelizmente existem e me incomodam muito, pois são sempre as mesmas bailarinas, em todos os eventos...

Rubi disse...

Célia mas tem uma diferença entre critica e dica e principalmente de critica de DV.
Uma vez eu fui em um evento e como sempre dancei mal, ai a Nanda Salima chegou em mim e disse olha vc ta dançando de pernas abertas, ( faço isso pq as minhas coxas são muitos grossas, não da para fechar), e vc tem que sorrir mais, está muito cara fechada.
Eu aceitei numa boa! pq ela é minha amiga , falou educadamente e estava me dando dicas preciosas.
Resultado, estou com a expressão muito melhor, a Nanda me ajudou bastante, Ah! e to com as pernas menos abertas.
Mas as críticas de DV Célia, eu te digo são cruéis, são de uma crueldade assustadora e só vc entrar nas comunidades de orkut e ver.
As pessoas estão usando a distancia , e a impunidade da internet para serem pessoas más.

Rubi disse...

AH`Célia entendi o seu ponto de vista.
Sim é verdade, existe a panelinha, se vc é da panelinha, nunca é critica e se vc crítica essa pessoa da panelinha é devorada viva.
E o pior existe guerra de panelinha,(bang bang bellydance), e penelinha pronta para criticar a integrante da outra panelinha rival.
bang, bang, bang.....

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