Estava lembrando quando eu só admirava a dança do ventre de longe, quando a vi pela primeira vez e me empolguei, pensando o quanto queria fazer! Eu sempre vestia umas roupas loucas quando criança e fingia que era dança do ventre ou então dança cigana na época da novela "Explode Coração" com a minha amiga Samara Ali! Gostava tanto que meus primeiros cds de dança do ventre foi a minha mãe que me deu: da Claudia Cenci e um outro em inglês, que esqueci o nome. Dançava troncha, mas dançava, um dia eu ia aprender certinho!
Vez ou outra tive pessoas da dança do ventre na minha vida, ainda que não praticasse: minha professora de matemática do primário, Kátia, na dança do ventre conhecida como Mayra Shams, a minha colega de escola Helena, que não sei se tinha nome artístico. Eu lembro da festa de quinze anos da Helena, as colegas de aula dela e sua professora fizeram um super show de dança do ventre, com velas, véus, espada, uma coisa de louco! Fiquei encantada mais ainda, e desejei o dia que iria aprender.
Só comecei a fazer aula quando tive meu primeiro salário de estágio, minha professora Vanessa Costa. Todas as ex-alunas sentem falta dela, realmente ela é insubstituível. Nela aprendi a dançar de verdade e a valorizar o conhecimento para a dança, não apenas passos assim e assado, mas dança com conteúdo. Ela se foi para outra arte, ela estava certa, o que ela tem hoje no Pole Dance ela jamais conseguiria na dança do ventre: lá ela é profissional, artista, valorizada por quem faz e por mérito. Ela tem retorno do investimento que ela faz, ela cresceu e na dança do ventre é muito difícil disto conseguir.
Eu lembro dos meus primeiros dias de blog, quando lia Luana Mello e suas ponderações tão sensatas. Ela também se foi: ela disse certa vez, em uma entrevista, que ela é uma artista e isso ela não conseguia ser na dança do ventre. Ela encontrou a dança burlesque uma forma de expressar sua arte. Eu não sou artista, mas sou pesquisadora, e também sei que muitas vezes não dá para unir pesquisa com dança do ventre, porque uma envolve totalmente a razão e a outra a emoção. E nas paixões a razão sempre perde... =p
Aí nesse vai e vem, fico pensando: o que me une à dança do ventre? O que me une a tantas outras praticantes desta arte, que se enchem o coração com um toque no derbake, que cantam árabe sem saber árabe, que exploram belos figurinos para serem bonitas para si e para o público? O que faz de mim mais ou menos importante que todas as meninas que já vieram para a dança do ventre, e que fazem ou não mais parte dela?
Gente, eu sou nada. Eu hoje tenho um blog acessado diariamente por milhares de pessoas, tenho fãs e tenho os super fãs (aqueles que precisam comentar qualquer coisa que escrevo só pra espinafrar), recebo contatos de emissoras e grandes empresas, contribuo com entrevistas para jornais e revistas, tenho amigos, tenho colegas, tenho afeto e mágoa de várias pessoas; e eu sou feliz, não por isso, eu sou feliz por cada dia respirar e poder agradecer a Deus por todas as conquistas que tive até hoje.
Tive anos maravilhosos na dança do ventre e anos ruins também, mas o saldo é positivo. O que me une a todos que fazem dança do ventre é uma paixão, um arroubo incontido de felicidade ao ouvir uma melodia familiar. A gente não se importa se agrada a todos, se tem a todos do seu lado ou contra você, a gente se importa em dançar, em sentir a música.
Por isso agradeço a quem fez parte da minha formação como dançarina, minhas professoras: Vanessa, que sinto saudades das aulas divertidas e desejo tudo de bom; Ranaa e Paula, por terem me dado toques preciosos; Virgínia, amiga de hoje e sempre; Heloísa, não concordamos em alguns pontos, mas sempre lhe quis bem; Samara, mestra máxima, seu brilho é contagiante.
Obrigada a todos e todas pelo carinho! E continuamos aqui! XD
8 comentários:
Uma despedida sensato, porém lamentável!
Ouso opniar na sua vida, afirmando que acredito que poderia se tornar uma grande dançaria, uma vez que és uma pessoa muito dedicada em tudo o que fazes!
Apenas posso afirmar que sinto muito por todas as pessoas que atuam nesse ramo, posto que estão perdendo um grande talento qual seja: VOCÊ.
Mas, boa sorte "no outro lado da rua" eis que sua escolha, tenho certeza, à tornará uma pessoa mais completa.
Olá Laryssete!
Obrigada pelo comentário, bem, não é uma despediiiiida, estou agradecendo a quem fez parte da minha vida e dizendo que ainda estou aqui, o blog é importante para muita gente.
Estou mais reservada pra não trazer mais riscos não só a mim, como também a minha família. Eu ainda quero viver muitos anos, e como diz meu orientador: não vou ficar batendo palma pra maluco dançar!
O blog continua trazendo informações, traduções, cultura para todo mundo. E espero a contribuição de todas as pessoas que amem o conhecimento e a discussão sadia!
Oi Soraya, muito bonitas suas palavras. Concordo que no mundo da dança do ventre hoje as coisas estão bem complicadas... mas as artes que você citou vão crescer e infelizmente com a fama também virão os problemas que enfrentamos na nossa arte. Não sou pessimista não! Só observo o ser humano... veja o balé, que mesmo com as grandes escolas consolidadas vemos muitos taletos sufocados por aí... até artes "menos populares" como o circo, conheço muitos artista incríveis que não conseguem viver de suas artes (a sociedade não valoriza e muitos artistas também se submetem a essa desvalorização)... em todo lugar onde já houve crescimento aparecem os presepeiros e aqueles cujos egos se inflamam demasiadamente... e com o aumento de artistas aparecem aqueles menos preparados que colaboram para denegrir a imagem e a valorização dos profissionais da arte. Bom, mas vamos em frente! Porque a arte é viva e precisa daqueles que a tratam com carinho e dedicação. Pessoas como você são importantes, agregam em torno de si aquelas que querem trabalhar para o crescimento da arte e de si, não apenas de si...
beijos e muito grata pelo seu trabalho neste blog.
Helga
Lindona,
Sabe que o que mais mantém a gente na dança? As amizades que surgem através dela. São as alunas que se mantém fiéis e fica difícil largar, os bons eventos, a superação de nós mesmas e a cultura.
Você sabe que também não vivo de dança e por conta de muitas dificuldades já pensei em largar. Mas quando penso nas coisas boas, eu continuo.
Refletir é sempre bom poi abre um canal de reflexão, o que deve ser feito de vez em quando para crescer.
Fica bem.
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