terça-feira, 27 de setembro de 2011

Primeiros Passos de Isis Zahara


Isis Zahara é uma dançarina mais conhecida no Brasil por seus diversos vídeos no youtube de apoio didático e subsídio para as alunas iniciantes da dança do ventre. Eu mesma quando comecei a me interessar pela dança acabei caindo nos vídeos dela e pude aproveitar muito de suas dicas. Mais tarde pude conhecer seu blog que também é recheado de informações bastante pertinentes para todos os interessados e amantes da dança do ventre. Talvez, o que poucos sabem é que ela já estuda dança do ventre desde 1993, já se apresentou em diversos países, tem formação em Antropologia e é mestre em Danças Étnicas pela Unicamp. Atualmente, Isis dá aulas em seu próprio studio na cidade de Den Bosch na Holanda e pelo skype. Além disso, não podemos nos esquecer de seus DVDs: "Great Belly Dance Beginners (01 e 02)" e "Great Belly Dance Intermediate Tabla Solo". O sucesso é tanto que a primeira edição do DVD para iniciantes está esgotada.


Não seria interessante saber como foi o início de Isis Zahara, que ajuda tantas meninas hoje com seu material de apoio para estudos online? Então vamos lá, porque além de nos contar sobre sua trajetória, Isis também toca em assuntos bastante interessantes nesta entrevista. Aproveitem.

Porque você começou a dançar a dança do ventre?
Eu tenho uma ligação com a cultura egípcia antiga desde criança devido ao meu nome de batismo: Isis. Mas, o primeiro contato com as danças do Oriente Médio veio através do meu pai. Por volta dos anos 90 ele começou a estudar a Ordem Mevlevi dos dervishes da Turquia e eu tive, pela primeira vez a noçao de que a dança pode ser um ato de oraçao e estar conectada com significados mais profundos além da beleza estética. Na mesma época o bailarino e coreógrafo Ivaldo Bertazzo estava começando a utilizar a técnica da Dança do Ventre na sua teoria sobre Cadeias Musculares e fazia uma conexão como processo da identidade corporal. Mas, eu precisava unir essas informações com prática da Dança do Ventre, assim eu cheguei até diversas mestras. Com a Sharazad pude aprender a Dança o Ventre dos Balcans. Por ser de origem armenia os movimentos faziam parte do que hoje podemos classificar de estilo clássico turco ou cabaret clássico. As entradas continham espacatos, movimentos de chão (postura de sereia). Lulu From Brazil já tinha uma ligação mais realista, no sentido de citar nomes de bailarinas árabes e conectà-las aos movimentos. Tempos depois ela produziu uma série em VHS, onde são detalhados alguns passos e estilos de grandes estrelas do estilo egípcio e eu considero indispensável para quem está iniciando. Com a Nájua eu aprendi o que podemos chamar de estilo Libanês e Khallege, Soraia Zaied com percussao e folclore. Depois veio o advento dos workshops, Raqia Hassan, Shokry Mohamed, Hossam Ramzy....e o estilo egípcio pareceu tomar conta do Brasil.
Em meio a toda essa febre eu ganhei um vídeo da Suhaila Salimpour e percebi que nos EUA um outro movimento estava acontecendo, que havia um estilo próprio e que as americanas tinham um apuradíssimo material técnico. Assim corri atrás de Suzanna Del Vechio, Anahee Sophian e a própria Suhaila Salimpour. Mas o conhecimento adquirido nas aulas nunca que me foi suficiente. Eu nunca me adequei com a idéia de padrão, então preferi seguir um caminho independente fazendo aulas particulares, comprando livros, DVDs e indo atrás de informaçoes que eu considerava consistentes. Essa curiosidade me levou a pesquisar a Dança do Ventre do ponto de vista antropológico na Universidade e desencadeiou em uma tese de Mestrado sobre a Mulher, Corpo e Sacralidade na Dança. A Toca da Musa, minha primeira escola de Dança do Ventre foi, fundada em 2004, no distrito de Barao Geraldo, próximo a Universidade Estadual de Campinas. Com o intuito de trabalhar com a Dança do Ventre nas suas diversas facções eu fazia um pequeno questionário sobre o que a aluna pretendia com a Dança. Assim dividia em linhas de estudo técnico, teórico e terapêutico. Atualmente, tenho uma escola de Dança na cidade de Den Bosch, no sul da Holanda e um contato direto com as comunidades árabes que residem na Europa. Isso me favorece no aprendizado mais profundo da cultura do Oriente Médio e dos Balcans. Também proporciona que eu viaje com mais frequência aos lugares fora da temporada de festivais e ir além do que os guias propõem.

Como foram as primeiras aulas?
Eu sempre tive muita curiosidade em saber o por quê de cada movimento ou estilo história etc... Mas, uma coisa eu me lembro que me marcou. Quando somos leigos em relaçao a Dança do Ventre, a primeira coisa que vem em mente é a figura da Odalisca seduzindo um sheik ou sendo obrigada a dançar para ele. Enfim a figura da sedução feminina, através dos movimentos e de uma roupa esvoaçante, está sempre presente. É a idéia que o Ocidente construiu através dos viajantes europeus e depois pelo cinema hollywoodiano. Essa idéia atrai muitas pessoas, mas também distancia outras que buscam uma outra concepção sobre a Dança do Ventre. Na minha segunda ou terceira aula eu tive acesso a um artigo da bailarina americana Morocco (Por isso é importante termos acesso a bons profissionais que pode nos direcionar para as informações). Neste artigo Morocco narra uma experiência vivida por ela mesma em uma tribo berbere no Marrocos. Nesta tribo os movimentos de ondulação da pelvis eram ensinados de mãe para filha para facilitar a dilatação da musculatura pelvica durante o parto. Toda a técnica da Dança estava voltada para o nascimento, para a figura do bebê conectando diversas gerações da tribo num outro contexto em que o homem não participava diretamente. Eu percebi o vácuo entre o olhar do Ocidente sobre a Dança e a realidade em suas raízes. Nao que a sensualidade nao faça parte, faz e muito. Mas a questao de ponto de vista sobre uma tradição muda completamente a forma como ela é transmitida. Através deste artigo eu comecei a entender que a Dança do Ventre, como conhecemos atualmente foi contruída pelo olhar ocidental sobre o mundo árabe.

Quais eram as suas dificuldades e como você as superou?
A grande dificuldade quando se está estudando, aprendendendo, é encontrar uma profissional que saiba direcionar didaticamente. Eu tive muita dificuldade em encontrar as pessoas que realmente fizeram diferença na minha busca. Na cidade em que eu morei por muito anos não havia profissionais qualificadas e o acesso à escolas não era tão simples com agora. Eu precisei correr atrás de materiais de apoio como DVDs para suprir as datas em que eu não podia frequentar as aulas pessoalmente. Juntar dinheiro, viajar e pagar por aulas particulares. Foi difícil porque muita gente se qualifica como profissional e não conhece o próprio conteúdo que está pretendendo ensinar. Não sabe o que significa uma dor no joelho ou o que aquecimento e alongamento realmente representam para o corpo. Também história, cultura, estilo, a Dança não é somente: 1-2-3-4 giro ou acento! Ela é um contexto que justifica a diferença de uma Samia Gamal, de uma Farida Fahmy, de uma Dina.

Uma história peculiar sua com a dança do ventre.
Aconteceu nos primeiros anos em que eu comecei a dar aulas. Eu sempre optei por iniciar o aquecimento com alguns passos de folclore, Dabke, Assaya, Fellahin, pequenas sequências, de fácil entendimento para depois iniciar a aula técnica e optava primeiro pelos estilos libanês e turco por exigirem movimentos mais amplo de quadril. Na escola em que eu dava aulas haviam outras professoras e muitas vezes as alunas alternavam e trocavam de classe. Um dia, uma delas chegou para mim e disse “Vc não dá aula de Dança do Ventre!” – eu fiquei parada, “como não!?” e ela me respondeu “A outra professora falou que o que vc faz não é dança do ventre. Ela nunca viu ninguem dar pulinhos, para cá para lá e com o cabelo ficar jogando...isso tudo é mentira!” Eu fiquei olhando para a garota e pensando: ”Que bela profissional hein!? Além de não saber o que está falando ainda tem coragem de criticar quem leva a sério!” Mas, com muuuuita elegância e profissionalismo eu solicitei que os alunos da escola assistissem o vídeo de um conhecido coreógrafo egípcio chamado Mahmoud Reda que tratava das danças Baladi e um VHS com danças folcloricas do mundo árabe, em que era possível identificar, pelo menos como exemplo, Khaleege, Dabke, etc...

Um recado para quem está começando ou continua estudando.
Atualmente estamos vivendo um momento em que as informações estão facilmente disponíveis. Quando se tem muita informação à disposição nada mais indispensável que seguir um bom profissional capaz de direcionar você ao caminho correto. Eu acredito que o material disponibilizado no youtube, nos blogs e sites devem ser utilizados como complemento, ferramenta de apoio às aulas e não como o único meio de estudo. Tem muita gente que posta qualquer coisa. A vontade de aprender tem que ser maior e suficiente para superar todos os sacrifícios. O caminho aparentemente mais fácil será o mais difícil no futuro. Existe um provérbio árabe que eu utilizo muito: Para se abrir janelas é preciso construir paredes. Ou seja, todo mundo necessita de uma estrutura sólida de conteúdo e isso não se conquista pelo caminho mais fácil. Diz também um provérbio cristão, Deus ajuda quem cedo madruga. A conquista do profissionalismo na Dança é um processo de suor e de investimento.
Example
Como em toda carreira profissional a pessoa precisa amadurecer o conhecimento dentro dela e isso acontece com o tempo. Não adianta pensar que porque você tem facilidade em executar isso ou aquilo mais rápido poderá dar aulas, isso já é um sinal de imaturidade. As pessoas têm que entender que a dança é uma semente. Você planta em seu interior e essa semente leva um tempo para brotar. O corpo vai se preparando, tomando forma para conceber essa árvore que vem nascendo e ela levará a vida toda, é um processo sem fim de aprendizado. Se você pretende ser uma boa profissional, seguir uma carreira como bailarina de Dança do Ventre ou como terapeuta Corporal utilizando a Dança etc... Não se comporte como um rato que invade a casa, rouba as informações e sai correndo pelo buraco da parede. Se comportando dessa forma você só atrairá pessoas que farão o mesmo com você. Treine humildade, respeito, ética como qualidades presentes na Dança.
*

Isis se apresentando com Sami Bordokan em 2007


(não poderia faltar um vídeo com uma de suas aulas on line)

7 comentários:

JOYCE LIYNAA disse...

CÉLIA VOCÊ COMO SEMPRE SE SUPERA AMEIIIIIIIIII ESTA ENTREVISTA, FOI TUDO DE BOM...DEPOIS QUE A LI, SENTI MINHA AUTO ESTIMA VIBRAR DE EMOÇÃO,NOSSA CONTINUE SEMPRE NOS DANDO ESSE PRAZER DE PODER COMPARTILHAR ESSAS INFORMAÇÕES MARAVILHOSAS SOBRE NOSSAS DIVAS DA DANÇA DO VENTRE...BJOS TE ADORO!!!
SUA FÂ JOYCE

Celia disse...

Oi Joyce, querida! Obrigada por prestigiar nosso blog com sua presença e também obrigada pelos elogios! Neste caso eu sem querer levei as honras da nossa digníssima Lívia Carine, que trouxe a entrevista da Isis Zahara!

Parabéns Lívia dioca!!

E parabéns também Isis Zahara! Sahiran ya 3amaliki! Traduzindo: Ótimo seu trabalho! ;)
Quem sabe não fazemos um review dos seus vídeos futuramente, não?

Beijones a todas!

Always Unlucky disse...

here for the 1st time great blog..! :) and congratulations it feels really awsum when your hard work pays off.! :) Following and supporting your blog! Looking forward to future updates!

Many times Photographers have to wait hours to just take that perfect photo shot and only once in a while they get lucky enough to get there right shot ...
Take a look here Photos taken at right

Anônimo disse...

Adorei! Bjbjb

Heloísa Caridade disse...

Me identifiquei muito com o discurso deta mulher! Achei super pertinente! E são os mesmos parâmetros que uso e valores que sigo. Exatamente o nome do nosso próximo espetáculo G R Ã O :
"a dança é uma semente. Você planta em seu interior e essa semente leva um tempo para brotar. O corpo vai se preparando, tomando forma para conceber essa árvore que vem nascendo e ela levará a vida toda, é um processo sem fim de aprendizado." Se você pretende ser uma boa profissional, seguir uma carreira como bailarina de Dança do Ventre ou como terapeuta Corporal utilizando a Dança etc... Não se comporte como um rato que invade a casa, rouba as informações e sai correndo pelo buraco da parede. Se comportando dessa forma você só atrairá pessoas que farão o mesmo com você. Treine humildade, respeito, ética como qualidades presentes na Dança."

Heloísa Caridade disse...

Muito interessante ver outras mulheres que, como eu, fazem uma relação análoga da dança e da vida, das nossas próprias atitudes e do que elas nos proporcionam e o que acontece conosco! Parabéns pela ótima matéria!

Harah Nahuz disse...

Olá!
Vim através do link,no blog da Isis,e quero parabenizar pela entrevista e todo conteúdo do blog!
Obrigada por compartilhar ^^
bjss

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