O espetáculo Passagem, de Elis Pinheiro, com certeza deixou muitas marcas no coração de todos. A escolha do tema foi muito pertinente, já que estamos sempre vivenciando transições, mudanças, transformações... Afinal, a vida, em resumo, é isso. E na dança, quantas vezes experimentamos isso? De quantas formas? Tanto como bailarinas, estudantes, espectadores, produtoras, etc?
Não é segredo para ninguém que eu sou fã do trabalho da Elis Pinheiro. Vibrei diversas vezes com as conquistas de todos ali envolvidos e me emocionei tantas outras. Um projeto realmente cuidadoso e que por isso eu abri outra exceção em falar de eventos aqui. No entanto, todos os comentários feitos aqui provém não dessa minha relação com a Elis, mas de um show feito com profissionalismo verdadeiro e comprometimento. Para mim, essas são as palavras que sintetizam o que foi o Passagem. Primeiramente, porque Elis e o corpo de baile alcançaram desempenhos incríveis em coreografias majestosas. Tudo coreografado pela internet, à distância. Como a Elis agora reside na Inglaterra, o acompanhamento foi todo virtual e só deu certo porque claramente todas as meninas envolvidas possuíam um senso de grupo muito forte, de união mesmo, força de vontade de fazer o melhor para estar a altura do que foi propositado para aquele dia e porque tinham orgulho de serem parte daquilo. A coreografia que abriu o espetáculo é um exemplo disso. Eu tive a sensação de estar assistindo um "lago dos cisnes", versão Dança do Ventre. As roupas me lembraram a entrada dos cisnes e a apresentação da bailarina principal, sem o príncipe, sem o drama, com outra pegada... até porque na metade do baile rola um said, que arrepiava. Emocionante.
Esse espetáculo me fez várias vezes me sentir no céu, transportada para outro tempo - sensação de fazer a "passagem". E a dança/arte é para isso, né? Nos tirar do mundo comum. Um desses momentos foi com a cia. da Vanessa Castro e seus lindos Fan veils, perfeitas com a iluminação. E mais a frente com um solo da Mariana Quadros, sexy, intenso, foda. Ainda não achei os vídeos dessa apresentação, uma pena. Achei interessante que boa parte das músicas lembravam algo indígena, tribal, o que imediatamente me remetia aos ritos de passagem que tanto estudei em Antropologia. O duo entre Elis e Mariana é um exemplo. Elas pareciam "mensageiras da mudança", como se estivessem participando de alguma cerimônia especial que visava marcar de fato algum momento de transição.
Olívia Zarpellon, Erica Seccato e Patrícia Saad foram um destaque a parte. As coreografias idealizadas por elas revelavam a verdade de cada uma e se integrava totalmente na proposta mágica da noite. A sinceridade corajosa delas me fez saltitar de felicidade. Sem falar do coleguismo evidente entre as meninas que abraçaram com carinho a coreografia de cada uma com linhas estéticas tão diferentes. Foi muito legal. Vi um grupo entrosado, unido, comprometido, envolvido, mergulhado. A coreografia de Dabke da Paty empolgou a galera e foi feminino e forte na medida certa. A coreografia romântica da Erica tinha lindos passos, formações e deslocamentos legais. As duas me lembraram o post sobre coreografias em grupo, claro, como bom exemplo. Mas, pra mim, a coreografia contemporânea da Olívia é a que mais põem em relevo o que estava dizendo sobre o espetáculo em si. A sensação era de renascimento, rito de passagem mesmo, crescimento. E Zahira Nader entrou no jogo, embarcou na viagem dela com a música, foi um bálsamo para os olhos.
Aquela noite foi um suspiro de prazer. No fim Elis ME brindou com uma música que só tinha visto a Orit Maftsir dançar (veja o vídeo aqui) e que babava eternamente. Quando a música começou e eu soube que era o fim do show, eu pensei "Meu deus, isso é pra mim! Só pode. Obrigada!!". Eu achava que só a Orit era capaz de dançar Amarein, mas... era uma noite de mudanças, certo? Um momento inesquecível.
(O youtube não quer me deixar incorporar o vídeo ¬¬)
A Elis é visivelmente uma profissional muito exigente e as meninas responderam a isso. As trocas de roupa eram muito rápidas, porque percebi que várias delas participavam quase em sequência de diversas coreografias, com pequenos intervalos entre uma e outra. Aliás as roupas e a maquiagem eram de muito bom gosto. Um luxo, sem economia nenhuma na beleza, digno de gala. A iluminação foi cuidadosamente ensaiada. Só havia profissionais de qualidade ali. Ao vivo era indescritível. Uma experiência que muitos vão se lembrar dizendo "Foi naquele espetáculo, Passagem".
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