sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

E a técnica? E você?


Ouvindo o Podcast do Sala de Dança desta semana, sobre ninguém mais, ninguém menos que Souheir Zaki (minha ídola mor), tentei me segurar pra não escrever aqui, porque eu ando sem tempo pra pesquisar sobre qualquer assunto e mesmo que seja só pra dar minha opinião, eu gosto de ler algo.
Bem, quem puder ouvir, lá pro fim do Podcast, a Carol Louro menciona como ela tem um desejo de adquirir/estudar técnica, mas com o objetivo de poder se desprender dela quando quiser. Isso pra mim foi ótimo e entra em consonância com a minha busca também. Então me lembrei de uma frase de Martha Graham, a qual desde que li sempre tenho em mente:



A técnica [...] é o que permite ao corpo chegar a sua plena expressividade… Adquirir a técnica da dança tem apenas um fim: treinar o corpo para responder a qualquer exigência do espírito que tenha a visão do que quer dizer.” 
Martha Graham

Por mim terminaria aqui, porque essa frase é genial e fechar com uma figura tão notável como foi a Martha pra dança já estaria excelente. Mas eu vim falar de algo que acho que pode ser uma questão não só minha. Leio muito por aí frases do tipo "se entrega, sente a música... a bailarina que sente, dança melhor que as outras, as bailarinas estão técnicas demais, cadê o sentimento?". Bom, sentir todo mundo sente, né minha gente. Sempre achei isso muito vago, porque eu sinto mil coisas quando ouço a música, mas quando me apresento só sinto duas coisas: medo vergonha. Portanto, meu problema não é sentir, é outra coisa.

Nos blogs que se preocupam com a nossa dança é comum ler sobre "bailarinas vazias", "danças chatas, sem emoção", e confesso que ando meio de saco cheio desse tema porque, pra mim, a questão pode ser maior. Pode ter ligação com algo que não ouço muito aí, e criei coragem pra dizer: Cuide de si, do seu espírito (que, como grifou Martha Graham, "tem algo a dizer"), cuide do seu interior, dedique mais tempo pra se conhecer, se entender, converse com seus amigos, familiares, ou quem se sentir bem. Converse com profissionais diversos, psicólogos, terapeutas, manicure, professor de dança, yoga, seu mentor espiritual, quem sabe até mesmo um filósofo... Às vezes uma conversa despretensiosa te leva a reflexões inesperadas. Esse tempo que você "gastou" com você mesma é mais funcional que aquele que você gasta com o estudo da técnica. Às vezes, ele pode ser determinante, dependendo do caso. Por que isso? Porque dançar é técnica, mas precisa muito mais de você, bem consigo mesma, sabendo seu lugar, seu propósito no mundo, na arte, para a técnica, assim, servir a sua dança, e à Dança em geral. Falo isso por mim, que sei que tenho várias questões pessoais e tenho pensado sobre como preciso ainda me modificar por dentro, mais do que por fora pra alcançar meus objetivos. 

Busque isso TAMBÉM, não busque só a técnica. Isso pode transformar sua dança. Descobri que isto também é dançar. Talvez não esteja tão claro pra quem começa, pra quem está sedento ainda pela perfeição dos movimentos, mas acredite é uma dica preciosa. E não é uma coisa fácil de fazer, porque não tem fórmula, não tem "técnica" (já que estamos falando dela também).  É um caminho pessoal, único, e cada uma vai ter que achar o seu. Dessa forma a diversidade finalmente vai reinar e você encontrará seu lugar. Lembre-se sempre que possível de que você é seu maior tesouro.

9 comentários:

Hanna Aisha disse...

Obrigada pelo texto, lindo.

Ana Ferreira Talibah disse...

Lindo seu texto... e você tem toda razão. Eu sei bem quando escreves sobre o medo em dançar, ou a vergonha... eu tenho mais alguns entraves, mania de perfeição e isto acaba me travando sabe pois fico tão bitolada e, fico tbm pensando no quem vão achar de mim, se estou com muita celulite depois de 4 gestações, se não vão me achar acabadona...rs... e isto tem haver com o "se aceitar".
Muito bem, permita-me mas vou compartilhar onde eu puder este texto, pois ele dá um start na busca pelo auto-conhecimento, isto lógico para quem decida fazê-lo, pois o precesso da reforma íntima é bem complexo e a seu tempo também doloroso.
Beijos e obrigada.

Carol Louro disse...

Livia, nossa adorei seu texto!!!!
E o proximo podcast fala sobre isso, acredita???
Muito legal, né?!
Um beijo enorme e parabéns!

Samantha Monteiro disse...

Oi Lívia, adorei esse post... posso confessar que fiquei com invejinha de quem precisa cuidar mais do sentimento do que da técnica?? Porque comigo acontece o contrário.. eu desde sempre fui muito extrovertida, e atualmente (e acho que desde sempre) o meu maior desafio na dança é exatamente desenvolver uma técnica que me permita expressar na dança toda a plenitude do meu sentimento... Não sei se é mais fácil ou mais dificil trabalhar o corpo do que a psique, mas o equilibrio é sempre algo a ser buscado... beijos e obrigada pelo belo post!

Melissa Souza disse...

Me identifiquei totalmente com o texto. Para tudo que faço na vida, busco um motivo para começar, continuar e terminar. É muito frustrante quando não consigo um motivo maior para me manter ligada naquilo.
Com a dança não é diferente, comecei querendo me livrar da timidez e praticar uma atividade dinâmica. Mas depois de dois anos eu fiquei tão acostumada a criar minhas próprias performances em casa que não consegui continuar dançando em grupo, achava chato não poder opinar na coreografia ou ter que executar um movimento igual a todos os outros.
Nesse momento eu percebi que eu tenho a técnica, mas, acima disso, eu tenho o meu próprio estilo de dançar. Acho que é isso que faz da dançarina de fato uma dançarina, não? Pois é assim que me sinto.

Lívia disse...

Samantha querida, eu que tenho invejinha de quem é destemida no palco e na vida! Mas se vc está precisando buscar a técnica, busque. Citei a Martha Graham e sua frase pq ela diz sobre a importância da técnica pro espírito poder dizer algo, logo necessitamos do equilíbrio, como vc aponta. Não esquecer nem de um nem do outro, porque os dois merecem atenção e resolvi tocar no assunto, porque no fim todo mundo foca na técnica, criticando ou elogiando, mas ngm fala de como é desenvolver o espírito nas suas mais variadas formas - pra vergonha, pro auto-conhecimento, pra achar sua verdade, enfim (e eu acho mais difícil pq isso é mt mais particular do que trabalhar a técnica - mas posso estar enganada).

Lilian Casagrande disse...

Lívia, adorei esse texto! Fiquei muito tempo sem dançar e desde que entrei p/ a DV eu só me apresentei 1x. Realmente, predominam medo e vergonha. Coração na boca, corpo tremendo, aquela sensação de que todo mundo está percebendo... Sinto que tenho que trabalhar muito mais a auto-confiança, mas que, ao mesmo tempo, ela virá naturalmente com o aumento da prática, tanto em aulas quanto me arriscar em mais apresentações.

Coincidentemente com a sua dica, esse ano foi o de maiores descobertas sobre mim mesma. Mas já deu para perceber que essa foi só a ponta do iceberg e que a busca do conhecimento sobre a pessoa que melhor deveria me conhecer ainda vai longe! Mas acho que estou na posição ideal, a de perceber a tempo e poder trabalhar as duas coisas paralelamente. Espero mesmo que outras meninas acreditem e busquem seguir a sua dica!

Um beijão, e um feliz Natal!!

Zahara disse...

Maravilhoso! Obrigada!

Zahara disse...

Maravilhoso! Obrigada!

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