quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O que é Maqam?

O Maqam (em árabe: مقام, no plural: maqamat, no plural dual: maqamani) é, na música clássica turca, um sistema de "tipos de melodia", os quais compõem um conjunto complexo de regras para a composição e performance de músicas.

Cada maqam é estritamente uma estrutura única de intervalo (cinsler) e de desenvolvimento melódico (seyir). O maqam tanto pode ser uma composição fixa (beste,  şarkı, peşrev, Ayin, entre outros) ou uma composição espontânea (Gazel, taqsim, a recitação do alcorão, etc), ainda que todos busquem seguir o tipo de melodia.

As escalas do maqam (escala árabe) são construídas por microtons (como uma vírgula, uma pausa entre as notas), e estes microtons se distribuem entre as notas que conhecemos. Por exemplo, entre Mi e Fá existem 4 microtons, já entre o Dó e o Ré existem 9. Conforme informações do músico Deniz Atalay, há 53 microtons em uma oitava, mas ainda que eles existam, nem todos necessariamente precisam ser tocados durante a execução da melodia. (Graças a Deus).

E qual seria  a diferença entre uma maqam e uma escala musical comum (ocidental)? O maqam é construído em cima de uma escala, no caso a escala árabe, que diferentemente da ocidental (12 notas) possui notas intermediárias (microtons) complexos de se registrar numa pauta musical. Ele forma uma oitava (8 notas + notas intermediárias entre elas), embora às vezes o maqam se estenda até 2 oitavas. Ele é mais rico que uma escala musical, e conforme o site Maqam World, as variações do maqam não podem ser compreendidas por leitura, mas de uma forma genuína, a tradição oral.

Maqam Rast
Além disso, cada maqam transmite um estado de espírito diferente, tanto para introspecção quanto para exaltação, de maneira que cada melodia influencia diretamente a percepção de uma peça musical

Cada maqam possui regras que determinam o seu desenvolvimento melódico (sayr). Estas regras indicam as notas que devem ser enfatizadas, quantas vezes, e em que ordem. Isto significa que dois maqamani podem possuir os mesmos intervalos de tons, serem até uma versão transposta do outro e ainda assim serem reproduzidos de forma diferente (como exemplo: maqamani Kurd e Hijaz Kar Kurd, ou maqamani Nahawand e Farahfaza).

No maqam também existem regras que definem a nota inicial (o tom, ou qarar em árabe), a nota final (mustaqarr), que em alguns casos é diferente da inicial, e a nota dominante (ghammaz). A dominante é a nota inicial da segunda estrutura (jins), normalmente a quinta nota, podendo ser a quarta ou a terceira também, servindo como base durante modulação.

Como falado no início, o taqsim é a arte da improvisação de um maqam. O taqsim pode ser executado antes da composição para "criar o clima" ou ainda ser executado no meio da melodia.

Embora conheçamos ritmos árabes, o maqam é mais que um ritmo, ele é uma melodia que segue uma estrutura e varia nessa estrutura. Sobre os tipos de maqam que existem, encontrei no wikipedia um quadro discriminando-os, segue abaixo, só por curiosidade:



E aqui abaixo o exemplo (em escala musical) de alguns maqamat:



Se as variações sentidas são algo a se adquirir pelo ouvido, deixo com vocês duas composições baseadas no maqam Nihavend:


&:

3 comentários:

Júlia Galvão disse...

Célia,

Gostaria de parabenizar o seu trabalho e da sua colaboradora Lívia, este blog é sem dúvida a maior referencia para nos bailarinas. Desde que comecei as minhas aulas no inicio de 2011 frequento este blog e fico impressionada com o altíssimo nível de pesquisa, de conhecimento e a bela forma como vocês realmente estudam, compreendem e valorizam a cultura árabe. Muitas vezes quando me desiludi com a dança encontrei alguém que compartilhava dos mesmos pensamentos que eu e que não ficava pregando que a dança era sempre um mar de rosas e que para estuda-la é necessário muito trabalho e paciência! Sem palavras para parabenizar e agradecer . Beijos

Celia disse...

Júlia,

Muito obrigada, ler isso nos enche de satisfação. Esperamos continuar trazendo informações para o meio da dança do ventre, e um dos nossos principais objetivos é o esclarecimento, o conhecimento, a discussão - sadia - dos temas que a perpassam. Somos totalmente dedicadas a compreender e tentar desmistificar certos tabus, além de também trazer um pouco do que sentimos e acreditamos aqui para o blog.

Eu entendo o que você sente em relação à dança, o fato de muita gente parecer viver numa "idade das trevas", querendo a todo custo sustentar mitos e lendas para a dança do ventre (e vaidades), sem qualquer devoção ou ao menos interesse em uma dança enquanto arte. Isso desestimula, quebra, cansa e principalmente nos decepciona. Não que devamos pensar que nossa opinião que é sempre a mais válida e mais correta, mas se ao menos as pessoas se dispusessem a trocar conhecimento, aceitando que podem estar erradas (como eu mesma já fiz tantas vezes -> e o histórico destes 3 anos de blog é uma prova disso).

Mas não sejamos pessimistas e vamos dançar, pensar, criticar, supor, entender, melhorar. Vamos viver!

Celia disse...

Ah sim, a palavra "maqam" em árabe é feminina, mas eu não consegui escrever "a maqam", e sim como "o maqam" como todo mundo fala. É só uma informaçãozinha.

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