Aqui temos uma entrevista com a dançarina americana Dalia Carella, traduzida do site The Hip Circle. Ela é referência no estilo turco de dança do ventre nos Estados Unidos e também pelo mundo. Além da dança do ventre, Dalia também se dedica a outros estilos, como a dança cigana e o flamenco. Atualmente ela se apresenta pelo mundo inteiro e promove workshops em seu espaço de dança em Nova York.
Qual é a origem e a motivação da sua dança?
Dalia Carella: Eu danço desde que nasci. Sou de uma família muito musical, e meus pais eram dançarinos - não profissionais, mas eles amavam dançar. Meus tios fizeram turnês com Frank Sinatra, Peggy Lee, Mel Tomei, Glen Campbell, Jimmy Durante, e Sammy Davis Jr. Eles eram grandes músicos.
A música e a dança sempre estiveram presentes em minha casa. Minha preparação começou aos oito anos com o jazz. Minha família era muito pobre e não pôde pagar minhas aulas depois de um tempo, o que foi desolador para mim. Acredito que se eles não tivessem me tirado das aulas, eu iria querer seguir carreira na Broadway, mas não era para ser.
Então comecei a dançar para as crianças do bairro. Eu dançaria as últimas músicas do Motown. Assim, fiz meus próprios "shows" na vizinhança. Fiz minha primeira aula de dança do ventre aos 17 anos e acabei sendo fisgada. Desde então, estou envolvida com a dança étnica e tenho estudado todas as suas formas: egípicia, tunisiana, argelina, marroquina e libanesa. Também estudei dança indiana, latina, caribenha, Flamenco, Bomba e Plena de Porto Rico, todo tipo de dança étnica.
Quais foram seus professores mais influentes na dança oriental?
Dalia Carella: Bobby [Ibrahim Farrah] foi uma grande influência em minha vida. Mas Elena Lentini foi minha maior influência.
Como você vê a evolução de sua dança?
Dalia Carella: Eu sinto que sou mais como uma dançarina étnica contemporânea, embora minhas origens estejam na Dança Oriental. Eu tenho estudado e pesquisado sobre a Dança Oriental por mais de 34 anos. Se eu não conhecesse a dança tradicional tão bem quanto eu conheço, eu não seria capaz de fundir e manter a integridade que acompanha a Dança Oriental.
Meu estilo incorpora muitos elementos da dança do Oriente Médio, Flamenco, Dança Indiana, Latina, Caribenha e movimentos da dança contemporânea. Vivemos na idade contemporânea e a nossa dança continua mudando com a influência das pessoas e das diversas culturas.
Fora dos palcos, você improvisa apenas com a dança do Oriente Médio ou você também se utiliza de coreografias?
Eu adoro o improviso. Eu sou daquele tempo em que tudo era improvisado, porque nós crescemos nas boates de dança oriental em Nova York, dançando com música ao vivo. Fomos muito privilegiadas.
Muitas dançarinas pelo país têm que usar CDs na maior parte do tempo. Eu realmente acredito que a dançarina que consegue improvisar é uma artista de verdade. É como se você se tornasse parte dos músicos. E para mim, esse é o maior desafio e expressão artísitca.
Qual é o seu tipo de música oriental preferido?
Dalia Carella: Eu amo música egípcia clássica, Roma turca, Saidi, assim como Rai da Argélia. Estou muito envolvida com a música do Magrebe ultimamente. A música e a dança têm sido grandes amores meus por muito tempo e agora eu quero me aprofundar mais nisso. Estou coreografando para um trabalho da minha Dança Coletiva chamado "A Composição de Magrebe no Tempo", que funde vários ritmos do Norte da África com algumas danças e ritmos contemporâneos.
Como a dança influenciou o seu estilo de vida?
Dalia Carella: A Dança do Oriente Médio é o meu estilo de vida. Eu morei no Egito em 1987 e em 1988 eu fazia dança egípcia clássica. Eu fazia o estilo tradicional, quando estava lá. Mas, quando me foi oferecido um contrato no Marriott, no Cairo, eu decidi não aceitar. Eu percebi, com meus 30 anos naquela época, que se eu ficasse, a minha carreira me levaria a fazer dança egípcia clássica. Eu soube, então, que aquele não era o rumo que eu queria tomar. Eu tinha muito a mostrar na dança em muitos estilos e decidi voltar para a América e me focar nos estilos que estavam mais no meu sangue.
[...]
Qual é o seu conselho para quem quer se tornar uma grande dançarina?
Dalia Carella: Em primeiro lugar, a dançarina tem que realmente conhecer a música. Se elas não tiverem uma boa musicalidade, isso vai ficar claro. Em segundo lugar, elas têm que saber dançar em frente ao público, ainda que reservem algumas partes da dança apenas para si mesmas. Quando crescemos como dançarinas, somos treinadas para sempre agradar a plateia, e nós o fazemos, mas à medida que fui amadurencendo como dançarina, comecei a dançar mais para mim mesma. Não importa se as pessoas gostam de mim ou não, mas você tem sempre que saber que há uma plateia lá fora assistindo você e pagando para vê-la. Então, há uma tênue linha aí. É muito importante vestir uma roupa que caia bem para você e para a sua música. Além disso, você precisa praticar muito os movimentos.
Para ser uma boa dançarina, você tem que estar comprometida com a dança. Você precisa ensaiar, praticar e ter aulas. Dança é comprometimento. Mas a coisa mais importante de todas é: sentir-se grata e abençoada por ter sido dado a você o dom da dança e nunca se esquecer disso.
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