
Alguns não vêem problema nenhum, outros fazem algumas ressalvas e outros abominam. Os comentários que vou tecer aqui são apenas partes da minha humilde
opinião. A idéia do post surgiu depois de assistir algumas apresentações bem executadas por
crianças, que por vezes chegam a superar muita
bailarina por aí (guardadas as devidas proporções!).
Vejamos as dancinhas das fofoletes:
Little Samia Gamal é ótimo!!!
Mas observe que a pequenininha executa alguns
passos com certa precisão que considero de nível intermediário já pro avançado, faz uma ótima dissociação do corpo, tem uma postura e posicionamento de braços interessante, difícil de ver nas crianças. Não deu pra rastrear, mas tudo indica que a menina é do
Oriente Médio.
Com um nome desse preciso dizer de onde ela vem? Ela força umas caras, né... Mas não disse que ia trazer a perfeição. Contudo, não dá para negar a habilidade técnica desta garotinha.

O Youtube possui mil vídeos disponíveis de crianças dançando, mas o que diferencia essas duas de tantas outras é uma certa
precisão, graciosidade e
leveza ao conduzir a dança
. É uma coisa muito engraçadinha ver criança dançando, não é verdade? Isso acontece porque, em geral, elas são
coisinhas desengonçadas, sem
consciência formal do que estão fazendo, do significado de uma dança, ou mesmo da música que estão
dançando. Aí, é raro ver críticas. O negócio muda de figura quando elas começam a dançar bem. Sim, as críticas aparecem em outros vídeos no quais temos crianças dançando "mal" (ou como crianças, sem direcionamento, só na espontaneidade), por causa principalmente da exposição. Mas sinto que a crítica é mais contundente quando elas dançam bem, ainda que em ambos os vídeos haja
críticas quanto à
exposição e o direcionamento da
dança do ventre a uma criança.

Para a
pouca receptividade quando a dança é bem executada por uma criança há diversas respostas: "
A criança não está aproveitando a infância e se focando no aprendizado de uma técnica". Mas ela está fazendo o mesmo na escola com a matemática, o inglês...
A diferença é o que você valoriza. O corpo é uma ferramenta altamente repreendida em nossa sociedade, e isso traz consequências para essa mesma sociedade. Essa
repressão é fruto de um
processo histórico e,
no fim, ao ignorarmos as potencialidades do corpo perdemos muito no que diz respeito ao
conhecimento do mundo sim, e também de
convivência social, aceitação do
prazer/bem-estar individual, etc. A dança tem valor terapêutico e disciplinar, não consigo enxergar problema na dança em si. Outra resposta comum: "
A dança é sensual e não deve ser praticada por crianças, pois pode acelerar um desenvolvimento sexual não adequado a sua idade". Não sei não hein, ainda mais se focarmos no
Brasil e o funk, axé e até mesmo o samba dando sopa por aí. Tenho, inclusive, minhas dúvidas quanto a isso em outras danças não-brasileiras, como
balé,
jazz, enfim, mais prestigiadas pelos pais. Acho que quando sua querida filha entrar em contato com essas expressões culturais, não custa nada você, pai ou mãe, acompanhar esse contato, assim como com certeza você faz para qualquer outra coisa nesta jornada de descobrimento do mundo de toda criança.

E cá entre nós, nossas músicas estão em português compreensível, enquanto que a
música árabe está longe disso - boa parte das bailarinas dançam somente o que sentem com a melodia da música - sem falar que boa parte do conteúdo dessas músicas é bem
poético. Essa associação de
sensualidade com a
dança árabe nós sabemos
de onde vem, não é mesmo? Novamente o problema não está
na dança.
Tentando finalizar esse assunto que dá pano pra manga: as crianças são pequenos seres humanos suscetíveis aos mesmos desejos que os adultos, só que sem a carga de maturidade que vamos recebendo ao longo de nossas experiências, logo é um público delicado e que absorve informações de forma rápida.

Acreidito que o problema está no direcionamento que dão para a dança. Escolher a dança para as crianças exige técnica diferenciada e um acompanhamento dos pais (sim, ter filhos é coisa SÉRIA, dá trabalho, acho que essa todo mundo devia saber, né?). Assim como o inglês e a matemática estão presentes na vida de uma criança com um direcionamento específico para a idade delas e um acompanhamento dos pais, a dança, a arte, o exercício físico devem merecer a mesma atenção. Se é um desejo da criança, porque não? Até porque, quando fazemos as coisas com prazer tudo sai melhor, fala a verdade aí. Talvez aquelas duas meninas alcançaram um certo nível de "excelência" por causa do prazer que aquela atividade, dançar, lhes proporciona. Existe o outro lado da moeda? Existe: elas podem ser "vítimas" de mães "frustradas" que refletem em suas crias seus desejos e vontades, entre outras possibilidades negativas. Mas não temos como saber se é o caso daquelas pequerruchas. Outra possível resposta está ligada aos passos ensinados que em tese não correspondem com a idade delas. Nesse caso, não posso falar muita coisa, pois envolve profissionais da área da psicologia do desenvolvimento, fisioterapeutas, educadores físicos. Só penso, como historiadora, que esse apego às verdades científicas podem ser contemplados com parcimônia, pois cada ser humano é diferente e nem sempre se encaixam nos padrões estabelecidos pelas ciências, o que não significa também ignorar as contribuições dos estudos especializados.
Diante dos vídeos, fiquei feliz e admirada por esses pequenos seres e senti uma motivação a mais para me dedicar com mais afinco à dança.